Opinião|O catolicismo no Brasil

O catolicismo firma-se como o doador universal de fiéis às fileiras do
pentecostalismo e dos sem-religião e inquieta as instâncias eclesiásticas

 
Por Faustino Teixeira

O catolicismo continua sendo a religião majoritária
no Brasil. O número de brasileiros que se declaram católicos gira em
torno de 125 milhões, três quartos da população brasileira. Em termos
relativos, o declínio é moderado e constante se comparado aos censos
anteriores, de 1940 (95,2%), 1950 (93,7%) e 1960 (93,1%). A partir dos
anos 80, a porcentagem de católicos foi declinando cada vez mais: 89,2%
em 1980, 83,3% em 1991 e 73,8% em 2000. Algumas projeções indicam que
pode chegar a 65% no próximo censo do IBGE.

O crescimento do catolicismo no Brasil ocorre de forma mais lenta que o
ritmo de ampliação da população do país. O catolicismo apresenta uma
taxa média de crescimento anual em torno de 1,3%, enquanto a taxa da
população total chega a 2%. O censo de 2000 revelou ainda o
significativo crescimento do número de declarantes evangélicos (15,4%)
e dos “sem religião” (7,3%).

Causa
inquietação nas instâncias eclesiásticas o fato de o catolicismo
firmar-se como o “doador universal” de fiéis às fileiras do
pentecostalismo e dos sem-religião; bem como a situação crescente
daqueles que mantêm sua crença desvinculada de qualquer instância
religiosa tradicional: daqueles que crêem sem pertencer.

O
atual revigoramento religioso no Brasil se dá em detrimento do
catolicismo. Na avaliação dos antropólogos Ronaldo de Almeida e Paula
Montero, “o catolicismo tornou-se o principal celeiro no qual outros
credos arregimentam adeptos”. Daí a efetiva preocupação de segmentos do
catolicismo oficial, que se lançam com vigor em projetos de
recatolicização da sociedade. Vale registrar as campanhas de
evangelização promovidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
nos últimos anos e, em particular, o projeto nacional de evangelização
“Queremos ver Jesus”. A Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe, que ocorrerá em maio, visa enfatizar uma
“ação missionária mais incisiva, organizada e constante”, no sentido da
reconquista do “substrato católico” latino-americano.

Em
sintonia com essa preocupação de “readesão” ao catolicismo, atuam novos
movimentos eclesiais, como a Renovação Carismática Católica (RCC). São
movimentos que agem numa linha distinta de outros núcleos eclesiais
ativos nas décadas de 70 e 80, como as Comunidades Eclesiais de Base e
as pastorais sociais. A RCC foca sua vida religiosa na “esfera da
intimidade”, no incremento a grupos de oração centrados na emotividade.
Mas também organiza e promove eventos litúrgicos em massa, apresentando
um catolicismo mais sedutor e atraente para a população. É visível o
crescimento do número de católicos carismáticos no Brasil, ou das
pessoas que estão envolvidas com atividades relacionadas ao movimento.
Fala-se em 12,6% da população.

A
estratégia evangelizadora carismática vem corroborada pelo crescimento
das comunidades de Aliança e Vida, como Canção Nova, Shalom e Toca de
Assis, e também pela intensificação de sua proposta evangelizadora nos
meios de comunicação de massa, sobretudo rádio e TV. Trata-se da
emergência de um “catolicismo midiático”, que traduz um novo estilo de
atuação missionária.

O
catolicismo no Brasil revela complexidade, diversidade e pluralidade.
Mas verifica-se nas últimas décadas uma acentuada tendência de
alinhamento da Igreja Católica com a dinâmica restauradora vigente na
conjuntura eclesiástica mais ampla. A lógica da ação evangelizadora vem
agora concentrada no anúncio explícito de Jesus Cristo e da Igreja. Não
há lugar destacado, nesse contexto, para pastorais mais críticas ou
para a experiência das CEBs, que enfatizam a ce