Oposição realiza protestos em massa no Egito
Grupos de oposição no Egito esperam reunir um milhão de pessoas em megaprotestos nesta terça-feira pedindo a saída do presidente do país, Hosni Mubarak.
Os ativistas estão se concentrando principalmente na capital do Egito, Cairo, e na maior segunda cidade do país, Alexandria.
Os manifestantes, que também convocaram uma greve geral por tempo indeterminado, acreditam que o anúncio feito pelas Forças Armadas de que o Exército não usaria força contra os integrantes dos protestos deve incentivar a população a participar dos eventos.
No que foi visto como uma concessão do governo aos manifestantes, a TV egípcia veiculou um aviso dos militares que alerta contra “qualquer ato que desestabilize a segurança do país”, mas também afirma que os militares “não estão (usando) e não vão usar força contra o público”, acrescentando que as demandas da população são legítimas.
Pelo menos cem pessoas foram mortas desde o início dos protestos no Egito.
O correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne afirma que para a maioria dos egípcios a saída de Mubarak, que está no poder há quase 30 anos, é apenas uma questão de tempo.
Demais correspondentes acreditam que a greve geral é o sinal mais claro de que uma liderança unida estaria emergindo nos protestos contra o atual governo.
Enviado dos EUA
O enviado especial dos Estados Unidos, Frank Wisner, já está no Egito para encontrar-se com Mubarak. A ideia é reforçar a mensagem de Washington de que o país precisa de mudanças reais.
A Casa Branca reuniu especialistas para avaliar formas de lidar com a crise egípcia. Há informações de que o governo americano tem dúvidas sobre o que fazer caso Mubarak se recuse a deixar o poder.
Segundo o correspondente da BBC em Washington Mark Mardell, a opinião predominante no governo é de que Mubarak deve sair, com o Exército assumindo o controle do Egito até que sejam realizadas eleições.
Para Mardell, no entanto, o presidente americano, Barack Obama, vê como contraproducente manifestar esta ideia em público.
Megafone
Na noite desta segunda-feira, dezenas de milhares de manifestantes continuavam na Praça Tahrir, no centro do Cairo, mesmo horas após o toque de recolher imposto pelo governo.
Usando megafones, líderes oposicionistas pediam para que os manifestantes prosseguissem acampados no local durante a noite.
Não houve relatos de que as forças de segurança tivessem reprimido a manifestação.
Manifestantes foram vistos conversando casualmente com soldados na praça, e algumas pessoas chegaram a subir em tanques presentes no local.
O clima de tranquilidade entre os manifestantes – os protestos reúnem um grande número de mulheres e crianças -, contrasta com o vivido por vários estrangeiros que tentam deixar o país.
O aeroporto internacional do Cairo esteve lotado de estrangeiros tentando deixar o Egito, e vários países organizaram o envio de aviões para retirar seus cidadãos.
O correspondente da BBC Magdi Abdelhadi, que está no aeroporto, afirma que autoridades estão confiscando os equipamentos de transmissão dos jornalistas estrangeiros que chegam no local.
ElBaradei
Líderes da coalizão de oposição formada durante os protestos realizarão um encontro na manhã desta terça-feira para definir uma lista de exigências.
Nesta reunião deve ser definido se o Nobel da Paz Mohamed ElBaradei será considerado o porta-voz do grupo.
Manifestantes dizem que o fato de os trens e a maioria dos ônibus da cidade não terem circulado nesta segunda-feira é sinal de que o governo pretende esvaziar os protestos. As restrições à internet entraram em seu quarto dia consecutivo.
A onda de saques e violência entre a sexta-feira e o sábado, reflexo da falta de policiais das ruas, diminuiu com a ampliação do policiamento, mas novos incidentes foram registrados.
O conhecido Museu do Cairo, onda são guardadas relíquias dos tempos dos faraós, foi alvo de uma tentativa de saque por parte de um grupo com cerca de 50 pessoas.
Nesta segunda-feira, Mubarak trocou alguns membros do seu Ministério – medida que analistas dizem ter sido insuficiente para pôr fim à onda de protestos.
* Colaborou Tariq Saleh, enviado especial da BBC Brasil ao Cairo
Da BBC Brasil