Organização torna metalúrgico diferente
Pesquisa sobre o perfil da categoria divulgada pela Subseção Dieese prova resultados expressivos da organização dos metalúrgicos do ABC. Salários superiores e menor rotatividade são alguns dos ganhos
Sérgio Nobre fala durante coletiva que divulgou o estudo do Dieese. Foto: Amanda Perobelli
Falar de organização no local de trabalho muitas vezes parece uma ideia vaga.
Só que pesquisa sobre o perfil da categoria, elaborada pela Subseção Dieese do Sindicato, prova como são expressivos os resultados da organização dos metalúrgicos do ABC.
Salários superiores aos demais metalúrgicos brasileiros e rotatividade menor são dois dos expressivos indicadores do estudo.
Outros pontos positivos são o aumento do nível de escolaridade da categoria, especialmente das mulheres; o tempo de permanência no emprego e a idade média de quase metade da categoria ser superior 30 anos, o que indica estabilidade no emprego porque é acompanhada da qualidade profissional.
A média salarial da categoria é de R$ 3.604,00, valor 44% maior que a média dos demais metalúrgicos brasileiros e 58% mais elevada que a de categorias em outros setores industriais.
Enquanto a rotatividade aqui é 18% na média, e de apenas 1,9% nas montadoras, para os demais metalúrgicos brasileiros bate em 35%.
“São indicadores muito bons em comparação aos demais trabalhadores, porque ilustram o quanto nossa categoria avançou nos últimos anos por sua luta, nível de organização e consciência”, frisou Sérgio Nobre, presidente do Sindicato.
O estudo, segundo ele, serve para balizar a ação da diretoria recém empossada e indicar o que deve ser feito.
Educação, segundo Nobre, é uma das prioridades. “O emprego cresce na base 4% ao ano desde 2004, mas são vagas destinadas à produção. Queremos que as empresas invistam em desenvolvimento, inovação e tecnologia para gerar postos de trabalho mais criativos e de melhor qualidade”, apontou.
Outro desafio é ampliar a contratação de mulheres. “Historicamente, 14% da categoria é formada por mulheres, porém os postos de trabalho hoje são muito diferentes de antigamente. Ou seja, elas podem ocupar postos de trabalho semelhantes ao de homens”, concluiu.
Mulheres são mais escolarizadas
Segundo o perfil, 21% das 15 mil metalúrgicas do ABC têm curso superior, contra 11% dos homens.
Foto: Raquel Camargo / SMABC
Flavia Bacha Mesquita tem 21 anos, é formada em ciências contábeis e faz pós graduação na área. “Éramos vistas como submissas. Para superar essa condição precisamos mostrar mais garra e determinação e estamos conseguindo de igual para igual com os homens. O estudo é um dos caminhos”.
Foto: Amanda Perobelli
Rebeca Azevedo, montadora e CSE na Mercedes, 21 anos, “Faço marketing porque gosto de me relacionar com as pessoas. Admito que haja um conflito com minha profissão, mas vou continuar na montadora. Meu objetivo é juntar a visão ampla que o marketing me dá com a experiência de trabalho que ganho no serviço”.
Homens possuem mais tempo de trabalho
O estudo revela que 31% da categoria trabalham há mais de 10 anos na mesma empresa, indicador de estabilidade e da qualidade da mão de obra.
Foto: Raquel Camargo / SMABC
“São os salários e os benefícios que temos que nos mantém no mesmo emprego”, explica o técnico em mecânica Marcelo Dias de Morais, de 41 anos, trabalhador no desenvolvimento de motores na Mercedes-Benz.
O pai de Marcelo trabalhou por 32 anos na mesma montadora. Vai ficar? Perguntou a Tribuna. “Se Deus me der saúde vou levando”, respondeu.
Foto: Amanda Perobelli
Francisco de Assis Gonçalves de Almeida, o Assis, Inspetor de Qualidade e CSE na Volks. “De meus 46 anos estou há 22 na fábrica, sempre na produção. Permanecer longo tempo na área é uma tendência, mas é muito difícil um horista se transformar em mensalista, mesmo que esteja super preparado. Não sei por que isso acontece, mas tenho companheiros na linha com formação superior”.
Da Redação