Os 40 anos do golpe que sangrou o Brasil: A mentira do “milagre econômico”
De 1968 a 1974, o Brasil viveu um período conhecido como milagre econômico. O País crescia a uma taxa de cerca de 10% ao ano. Este crescimento se assentava numa estrutura social que concentrava a renda nas elites agrárias e nas burguesias urbanas. A inflação nunca deixou de castigar as camadas mais pobres, que ainda sofriam com o arrocho salarial, enquanto a repressão impedia a manifestação dos trabalhadores.
O modelo econômico da ditadura pode ser compreendido pela seguinte frase: “Primeiro é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. Ela ilustra o pensamento econômico segundo o qual a riqueza nacional deveria crescer para só então ser distribuída de forma justa entre os habitantes. Isto jamais ocorreu.
O próprio milagre foi mais um acontecimento fortuito do que obra de gênio dos militares, como demonstra Elio Gaspari em seu livro A ditadura derrotada. Ele conta que desde os primeiros anos da década de 60 circulava no mercado financeiro de Londres uma nova modalidade de dinheiro. Resultava da captação de depósitos em dólares pelos bancos internacionais e se chamava eurodólar. Livre dos regulamentos monetários nacionais, ia para onde queria.
No início dos anos 70, pela primeira vez em meio século as economias americana e européia haviam-se contraído ao mesmo tempo, levando os bancos a caçar novos clientes para seus empréstimos. O Terceiro Mundo tornou-se destino atraente para o dinheiro abundante.