Os trabalhadores ocuparam a cena política, diz Lula

Antes da abertura do Congresso, o presidente Lula deu entrevista à Tribuna, a primeira exclusiva a um jornal depois de sua posse.

Lula, há 25 anos você abriu um congresso na categoria onde os temas eram liberdade e autonomia sindical, ratificação da convenção 87 da OIT e fim do imposto sindical. Hoje você volta e abre um congresso com os mesmos temas. Nada mudou nesse período?

É claro que muita coisa mudou. Naquela época a gente tinha de fazer o congresso tomando cuidado com os agentes do Dops (polícia política da ditadura militar). Hoje um presidente da República pode vir aqui e participar do congresso.
Acho que muita coisa mudou de lá pra cá. Politicamente muitas coisas mudaram, os trabalhadores ocuparam a cena política e conquistaram espaço de negociação, fundaram um partido, construíram a CUT, implantamos as comissões de fábrica e a representação no local de trabalho que fazem vários tipos de contratos de trabalho negociados diretamente.

Houve avanços, então?

Na legislação, porém, nada mudou. Ainda vigoram as mesmas leis inspiradas na Carta del Lavoro italiana e que deu origem à CLT ainda no governo Vargas.
É nisso que precisamos evoluir e acredito que o 4º Congresso que será realizado poderá trazer uma grande contribuição à reforma que pretendemos fazer para mudar a estrutura sindical. Os metalúrgicos do ABC formam uma categoria com uma capacidade impressionante de influir nos rumos do sindicalismo brasileiro.

Recentemente você declarou que o Sindicato é o seu berço político… Como é voltar ao Sindicato agora como presidente da República?

É isso mesmo, é o meu berço. Estou fora do Sindicato desde 1981 e toda vez que voltei aqui sempre fui tratado com muito carinho. É como se ainda eu fosse diretor desta entidade. Como presidente tenho orgulho de ter passado por aqui, de ter criado a CUT. Tenho orgulho que todo mundo aqui me chama de companheiro quando muitos me chamam de excelência. A minha eleição não nos afastou dessa relação mais afetiva. Depois que terminar meu mandato quero olhar na cara de cada um que está aqui e dizer de cabeça erguida: companheiros, missão cumprida.