Ossada do desaparecido político Dimas Antonio Casemiro é identificada após 47 anos

 

Fotos: Roberto Parizotti – Set/ 1990

Torturado e morto por agentes do regime militar aos 25 anos, em 1971, Dimas Antonio Casemiro é o quarto desaparecido político que tem sua ossada identificada entre as 1.047 localizadas em 1990 na vala clandestina de Perus, em São Paulo.

Essa é a quarta identificação desde o descobrimento dos milhares de restos mortais, mas a primeira da pesquisa realizada pela equipe de antropologia forense da Unifesp, o Grupo de Trabalho Perus, que foi contratado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, CEMDP, no governo Dilma, em 2014.

O exame foi feito por um laboratório da Bósnia, e seu resultado foi enviado ao Brasil há alguns dias.

Militante

Dimas Antonio Casemiro, dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes, MRT, foi preso em 17 de abril de 1971 por agentes da repressão em São Paulo. Na versão “oficial” apresentada à época, ele teria morrido ao trocar tiros com a polícia durante sua prisão no bairro Saúde.

No entanto, as investigações da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, mostram que ele foi morto em algum momento entre os dias 17 e 19 de abril de 1971, atingido por arma de fogo em tiroteio simulado.

A Comissão concluiu ainda que Dimas foi torturado nesse período, desmentindo a versão oficial de “morte em tiroteio”. Os documentos do Instituto Médico Legal, o IML, também mostram que Casemiro foi enterrado no dia 20 de abril no Cemitério Dom Bosco, construído pela prefeitura de São Paulo em 1971.

Em 1976, cadáveres de pessoas não identificadas e vítimas da repressão política foram transferidos para uma vala clandestina, denominada “vala de Perus”. Só em 1990, a vala foi descoberta e foram encontradas as ossadas.

O irmão de Dimas, Denis Casemiro, Frederico Mayr e Flávio Carvalho Molina foram identificados ainda em 1990. Denis também foi torturado e morto pela ditadura militar em 1971.

Tribuna

Em 13 de setembro de 1990, a Tribuna Metalúrgica publicou matéria sobre a descoberta da ossada em Perus. O material traz um resgate histórico sobre o período de ditadura militar no Brasil e também relatos de familiares dos desaparecidos políticos.

Direito à memória

Em 2007, no governo Lula, após 11 anos de trabalho, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos lançou o livro ‘Direito à Memória e à Verdade’. A obra recupera a história de 479 militantes políticos, vítimas da ditadura militar no Brasil entre 1961 e 1988. A Comissão integrava a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, da qual Paulo Vannuchi era ministro.

Da redação