País pode aprender com o golpe de 1964, afirma Dilma

A presidente Dilma Rousseff aproveitou discurso durante cerimônia no Palácio do Planalto nesta segunda-feira para fazer menção aos 50 anos do golpe militar e dizer que o país pode “olhar” para esse período e “aprender com ele” porque o “ultrapassou” em um processo construído “passo a passo” pelos governos eleitos que sucederam a ditadura. Ela disse ainda reconhecer “pactos políticos” que levaram à redemocratização.

“Reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, muitos deles traduzidos na Constituição de 1988”, disse a presidente. “Assim como respeito e reverencio os que lutaram pela democracia enfrentando a truculência ilegal do Estado e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores, também reconheço e valorizo pactos políticos que nos levaram à redemocratização”, completou.

Em sua avaliação, a data recordada nesta segunda-feira exige que se lembre e conte o que aconteceu em respeito “a torturados e perseguidos, às suas famílias e a todos os brasileiros”. Dilma afirmou que “lembrar e contar” é um processo “muito humano”, parte das lutas do povo brasileiro pela liberdade democrática.

“Aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes e ativos. Aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger pelo voto direto e secreto de todos os brasileiros (…) por exemplo um ex-exilado, um líder sindical que foi preso várias vezes e uma mulher também que foi prisioneira”, disse Dilma em referência aos seus antecessores eleitos democraticamente. “Aprendemos o valor de ir às ruas”, emendou.

Dilma acrescentou ainda que se espera sob a democracia a transparência, o acesso à verdade e a garantia da verdade e, portanto, da história. Ao lembrar a criação da Comissão Nacional da Verdade, instituída em seu governo para apurar violações aos direitos humanos ocorridas durante o regime militar, Dilma voltou afirmar que “a verdade” significa “o contrário do esquecimento” e “o oposto do esquecimento”, algo tão forte, que não dá guarida para ressentimento, ódio, nem tampouco para perdão.

“Nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história somos cada um de nós, que no nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia em nosso país”, disse a presidente ao encerrar sua fala.

A cerimônia com a presença de Dilma foi para marcar a assinatura do contrato de construção da segunda ponte sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre.

A presidente destacou em seu discurso que a cobrança de diversos segmentos da sociedade civil pela construção da ponte reflete “sinais dos tempos”. “Em cada ação se reflete o sinal da sua época. Nessa ponte sobre o Guaíba está refletido o sinal de uma época diferente do nosso passado, não só como gaúchos, mas como brasileiros”, disse Dilma ao começar sua fala em referência aos 50 anos do golpe militar.

A presidente afirmou ainda que, na função pública, “vários compromissos” são assumidos, sendo “todos importantes; a maioria, urgente”.  A construção da ponte era uma promessa de campanha da presidente definida por ela como “demanda histórica”.

A licitação para o empreendimento foi vencida por consórcio liderado pela construtora Queiroz Galvão, que ofertou ao empreendimento o valor de R$ 649 milhões – 26,28% abaixo do orçado no edital. A presidente destacou a necessidade de investimentos em mobilidade urbana para assegurar melhoria na qualidade de vida da população. As estimativas do governo são de que 50 mil automóveis passarão pela nova ponte. Dilma pediu ao consórcio vencedor, liderado pela Queiroz Galvão, “total dedicação” à construção do empreendimento.

“Estamos investindo muito para melhorar as condições de deslocamento da população de Porto Alegre e em todo o Rio Grande do Sul”, disse a presidente, ao lado do governador do Estado, Tarso Genro (PT).  Ao discursar antes de Dilma, o ministro dos Transportes, César Borges, elencou uma série de investimentos federais no Rio Grande do Sul, o que, em sua avaliação, “traduz” o “amor” de Dilma pelo Estado.

Do Valor Econômico