“Países querem que o Brasil vire só consumidor, não produtor de veículos”

Fotos: Adonis Guerra

A Organização Mun­dial do Comércio, a OMC, condenou sete programas de incentivo à indústria no Brasil, entre eles o Regime Automotivo, o Inovar-Auto, que teve iní­cio em 2013 e tem duração até dezembro.

A OMC considerou as medidas irregulares após a União Europeia e o Japão terem reclamado do Inovar-Auto. O governo brasileiro deve recorrer da decisão.

O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, res­ponsável por políticas in­dustriais, Wellington Mes­sias Damasceno, explica o que a decisão representa para os trabalhadores e a indústria nacional.

Tribuna Metalúrgica – Em que contexto começou o Inovar-Auto?

Wellington – Em 2011, o número de importações estava muito alto e isso não agregava nada à indústria brasileira.

O Inovar-Auto tem o obje­tivo de incentivar as empresas a se instalarem no País. Se a montadora comprova produ­ção local e investimentos em pesquisa, desenvolvimento, engenharia e ferramentaria, consegue trocar esse créditos por incentivos do Regime, se tornarem mais competitivas e gerar empregos em contra­partida.

TM – Quais os resultados do Regime Automotivo para o País?

Wellington – A impor­tância do Inovar-Auto é comprovada pelas empre­sas, recursos e empregos gerados no Brasil. As mon­tadoras anunciaram plantas aqui e as que já estavam no País mantiveram os inves­timentos, como a Volks e a Scania, em São Bernardo.

As novas plantas alcan­çaram mais de R$ 16 bilhões em investimentos e mais de 54 mil empregos diretos e indiretos (confira o quadro abaixo).

Mesmo com a crise, se não fosse o Inovar-Auto, es­taríamos em uma condição muito pior. No ano passado, as exportações representa­ram 40% da produção de veículos pesados e essa pla­taforma mais competitiva só foi possível por conta dos investimentos.

O Regime Automotivo gera melhores empregos, com mais qualificação pro­fissional, melhores salários, cria inteligência no País e consegue fazer com que a cadeia produtiva se mante­nha no Brasil.

TM – O que a decisão da OMC representa para os trabalhadores?

Wellington – Se não existir um novo Regime Automotivo nos moldes do Inovar-Auto, há a possibili­dade da retirada de inves­timentos do País. O par­que de fornecedores estará condenado e a produção de conhecimento deverá parar ou reduzir drasticamente.

O interesse dos países que reclamaram na OMC, que são sedes das monta­doras, é invadir o mercado nacional e fazer com que o Brasil vire um país con­sumidor, não produtor de veículos.

TM – Como está a discussão atualmente?

Wellington – Nós cobra­mos espaço para participar das discussões sobre a nova política automotiva brasilei­ra, chamada de Rota 2030, e passamos a ter represen­tação no debate. Defende­mos o incentivo à produção local, com um mecanismo de cobrança para garantir pesquisa, desenvolvimento, engenharia e ferramentaria no Brasil.

Garantir esse modelo de contrapartida é fundamen­tal para a geração de empre­gos, renda e uma indústria forte no País.

Da Redação.