Palocci destaca resistência equilibrada do Brasil no combate à crise
"Pela primeira vez na história recente, enfrentamos uma crise, que foi a maior, de maneira equilibrada, conseguindo resistir a uma forte tempestade que atingiu o sistema financeiro inicialmente e a economia posteriormente de maneira bastante forte"
O relator da comissão especial que analisa os reflexos da crise econômica mundial no comércio, deputado Antonio Palocci (PT-SP), afirmou nesta quarta-feira (27) que um fato relevante da crise foi a maneira positiva como o Brasil reagiu à turbulência. “Pela primeira vez na história recente, enfrentamos uma crise, que foi a maior, de maneira equilibrada, conseguindo resistir a uma forte tempestade que atingiu o sistema financeiro inicialmente e a economia posteriormente de maneira bastante forte”, disse.
Palocci, junto com os demais relatores do PT, Pedro Eugênio (PE), da Indústria, e Vicentinho (SP), do Trabalho, participaram da Comissão Geral da Câmara que discutiu medidas de enfrentamento à crise mundial no plenário. Os petistas avaliaram que além das iniciativas tomadas pelo governo, há ainda espaço para adoção de novas medidas para esse enfrentamento.
Palocci reconheceu que o Brasil sofre o desemprego em função da crise, “mas muito menor do que poderia acontecer se estivéssemos colecionando vulnerabilidade, como fazíamos no passado”, avaliou. Segundo ele, o Brasil venceu etapas importantes da sua estabilidade institucional, na luta contra a inflação, na redução da dívida pública e no equilíbrio da economia. “Não é à toa que o nível de geração de empregos formais no Brasil dobrou nos últimos anos, passou da faixa de 600 mil empregos formais por ano para mais de 1 milhão 2 mil de empregos formais”.
Sobre as preocupações macroeconômicas manifestadas na comissão geral sobre juros e câmbio, por exemplo, Palocci destacou que o Brasil está conquistando taxas de juros progressivamente menores.
Em sua conclusão, Palocci alertou os parlamentares para o fato de que um novo ciclo de crescimento econômico deve ter pelo menos duas preocupações fundamentais. “Nós não podemos fazer uma nova bolha mundial de crescimento. Temos de fazer, primeiro, um novo ciclo de crescimento mais regulado, mais equilibrado, mais responsável do ponto de vista do crédito e com crescimento mais responsável com o planeta. Estudos mais recentes têm demonstrado que a atividade econômica precisa considerar a possibilidade de uma evolução com menos emissão de carbono. Esse é um tema extremamente importante, positivo para o Brasil, tendo em vista que se trata de um país que tem maior percentual de energia renovável dentro da sua matriz energética. Portanto, é um tema que nos favorece, porque nós trabalhamos esse tema ao longo da nossa história”, afirmou.
Trabalho
O deputado Vicentinho, que analisa os efeitos da crise sobre os serviços e emprego, afirmou que entre os mecanismos discutidos na comissão estão a redução da jornada de trabalho, o peso dos impostos sobretudo para micro e pequenas empresas, e mecanismos que facilitem resoluções processuais. “Também me deixou preocupado a existência de mais de sete milhões de aposentados ainda trabalhando, mais de três milhões de pessoas em dois ou três serviços e quantidade imensa de crianças trabalhando no lugar de adultos” , afirmou. Ele defendeu uma reunião entre trabalhadores, empresários e governo para construir um entendimento sobre a situação do trabalhador. “Demitir significa ajudar a aprofundar a crise”.
Vicentinho acrescentou que é autor de projeto para determinar que haja processo de discussão e critério antes das demissões. “Esse projeto é importante porque muitas empresas que até já demitiram agora estão contratando”, disse.
Indústria
O relator da comissão especial da Indústria, deputado Pedro Eugênio, afirmou que os parlamentares têm se reunido semanalmente com representantes do Ministério da Indústria e Comércio, Banco Central e Ministério da Fazenda. “Nessas reuniões temos levado o conjunto de sugestões que tem surgido na comissão para que os órgãos do governo já possam ir trabalhando e discutindo conosco a viabilidade de medidas que visem a combater a crise do ponto de vista da indústria”, disse.
Pedro Eugênio destacou que o governo Lula realizou ações fundamentais e rápidas no combate à crise. “Entretanto, há muito o que se fazer até porque a crise é dinâmica. Há muitos consensos pela desoneração das exportações e desoneração dos bens de capital. É o setor de bens de capital a alma do processo de crescimento, porque não se consegue crescer sem investimento, não se consegue ter investimentos sem indústrias de bens de capital”, defendeu.
Ele acrescentou que há consenso também de que o atual sistema tributário deve aproveitar os créditos tributários e não deixá-los acumular, o que torna diversos setores – exportadores, inclusive – em situação de não competitividade. “Essas medidas que são consensuais precisam agora de apoio político e de articulação política. É muito mais uma questão, a meu ver, de trabalharmos as propostas específicas junto com o Governo, junto com a sociedade e no âmbito desta Casa para construirmos proposições concretas que possam se transformar em projetos de lei que sejam aprovados nesta Casa, inclusive fazendo uma varredura nas proposições que já estão em tramitação”, defendeu.