“Para Bolsonaro, atenção básica de saúde é oportunidade de negócio”

A declaração é do médico e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que junto a parlamentares protocolou pedido de suspensão do decreto do governo que prevê privatização do SUS

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Os centros de saúde onde você leva sua família para se vacinar nas grandes campanhas, os mais de 300 mil agentes de saúde no país que visitam a casa das pessoas para fazer busca ativa, nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, cirurgiões dentistas que apoiam a estratégia de saúde da família, as mais de 44 mil unidades básicas de saúde no país, as 36 mil equipes de saúde da família, os médicos do ‘Mais Médicos’ tudo isso compõem a atenção básica ou atenção primária de saúde e pode acabar, conforme decreto do governo Bolsonaro que prevê a privatização do SUS.

A lista foi lembrada pelo médico infectologista e ex-ministro da Saúde no governo Dilma, Alexandre Padilha, em vídeo postado das redes sociais. A declaração foi dada após a publicação no Diário Oficial da União do decreto 10.530, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que determina à equipe econômica que crie um modelo de privatização para unidades básicas de saúde.

 “Atenção básica ou atenção primária de saúde, para Bolsonaro e seu ministro da Economia, não é um direito ou uma forma de cuidar, é uma oportunidade de negócio. Foi isso que ele sinalizou com o decreto”, denunciou.

Padilha destacou ainda que tudo isso pertence aos municípios e foi construído com dinheiro da população. “Bolsonaro vai lá e faz um decreto para vender itens de propriedade e de competência do município sem envolver os municípios”.

O secretário-geral do Sindicato, Moisés Selerges, destacou a quem interessa a privatização do SUS. “Interessa às empresas de seguro saúde. Se privatizar, só vai ter acesso à medicina quem pagar, como é nos Estados Unidos. Isso é mais um dos compromissos desse governo para pagar a conta dos apoiadores do golpe, ao governar para os interesses do mercado financeiro, bancos e empresas que exploram a saúde”, explicou.

Nos EUA saúde só pra quem tem $

Nos EUA país que amarga o primeiro lugar em mortes e contaminação por Covid-19, a questão da saúde está no centro do debate nas eleições presidenciais entre Donald Trump e Joe Biden. Lá não existe um sistema universal de saúde, como o SUS no Brasil.

O sistema americano é público-privado. O governo subsidia o seguro de alguns grupos específicos, mas mesmo esses grupos precisam pagar por medicamentos, hospital e tratamentos especiais. O número de pessoas com seguro-saúde  aumentou após o então presidente Barack Obama aprovar a lei Affordable Care Act, também conhecida como Obamacare. O presidente Donald Trump vem cortando fundos para a divulgação e iniciativas para cadastro de novos beneficiários.

Rafael Guerra, representante do UAW no Brasil, Sindicatos dos trabalhadores na indústria automotiva dos Estados Unidos, que morou três anos lá relata sua experiência em relação à saúde.

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“Eu trabalhei na Disney com vários americanos que tinham problemas de saúde, mas não iam ao médico por falta de dinheiro, isso me impactou muito. Foi meu primeiro choque morando nos EUA. O valor de uma consulta comum é em torno de 250 dólares, mais de mil reais. Se você precisar de um serviço de emergência, de uma ambulância por exemplo, a conta fica muito alta, por isso muitas pessoas acabam pedindo um Uber, 15 minutos de ambulância chega a custar 4 mil dólares, é bem fora da nossa realidade.  Quando o trabalhador é sindicalizado existem planos de saúde mais acessíveis, mas a maioria dos planos, quando o trabalhador não é sindicalizado, 80% da população americana, são muito caros, cerca de 600 dólares por mês, para uma pessoa na faixa de 40 anos. Eu tive que ir ao hospital por conta de uma unha encravada, estava com muita dor. Quando o médico me examinou disse que precisava de uma cirurgia, fiz, mas tive que assinar uma nota fiscal dizendo que se o convênio não pagasse eu me responsabilizaria em pagar tudo, o convênio cobriu, mas o valor foi altíssimo, mais de mil dólares”.

Oposição pede a suspensão do decreto

“Nós apresentamos junto com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) um Projeto de Decreto Legislativo para suspender esse decreto. Precisamos nos mobilizar fortemente, nós que defendemos a vacina e queremos a vacinação para todos precisamos da atenção básica de saúde para que a vacina chegue até as pessoas, e não que a atenção básica de saúde seja um negócio financeiro para poucos”, defendeu Padilha.

Deputados do PCdoB e PT protocolaram Projeto de Decreto Legislativo (PDL), instrumento que tem o poder de suspender imediatamente os efeitos do um decreto presidencial. Parlamentares do PSOL farão o mesmo.