Para salvar bancos, Europa prejudica jovens trabalhadores
A Europa já gastou centenas de bilhões de dólares resgatando seus bancos, mas pode ter perdido toda uma geração de jovens neste processo, afirmou Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu.
Desde que a crise da dívida na região começou, em 2009 na Grécia, a União Europeia criou complexos mecanismos de resgate para amparar países em apuros e seus precários setores bancários, reservando para isso um total de US$ 700 bilhões.
Mas pouco se fez contra o devastador impacto social da crise, e há mais de 26 milhões de desempregados na UE –- inclusive metade dos jovens na Grécia e Espanha e em partes da Itália e Portugal.
Esse nível paralisante de desemprego levou a protestos e surtos de violência em todo o sul da Europa, gerando a ameaça de um colapso social generalizado, o que incluiria um aumento da criminalidade e ataques contra imigrantes, abalando ainda mais governos já instáveis.
“Salvamos os bancos, mas estamos correndo o risco de perder uma geração”, disse Schulz, socialista alemão que desde janeiro de 2012 comanda o Parlamento Europeu -– único órgão da UE eleito pelo voto popular.
“Uma das maiores ameaças à União Europeia é que as pessoas perdem inteiramente sua confiança na capacidade da UE para resolver seus problemas. E, se a geração mais jovem está perdendo a esperança, então aos meus olhos a União Europeia está em perigo real”, disse ele à agência de notícias Reuters.
Dados divulgados na semana passada mostram que 57% dos gregos de 15 a 24 anos estão sem trabalho, e que um problema semelhante ocorre na Espanha, onde algumas pessoas com formação superior e mais de 30 anos nunca tiveram emprego.
Chefes de governo da União Europeia vão discutir as consequências da crise da dívida numa cúpula nos dias 14 e 15 de março.
Há planos para a criação de uma “garantia do emprego jovem”, que asseguraria às pessoas de até 25 anos uma oferta de trabalho, mais educação ou formação profissionalizante durante pelo menos quatro meses depois que a pessoa sai da faculdade ou de um emprego.
Isso é parte de uma iniciativa de US$ 6 bilhões para combater o desemprego nas regiões mais afetadas da Europa. Mas analistas dizem que isso é pouco, e já é tarde.
Schulz, de 57 anos, que concluiu só o ensino médio antes de iniciar carreira como livreiro, disse que recentemente participou de um debate em que foi desafiado por uma espanhola pelo fato de os jovens serem abandonados para que os governos pudessem socorrer os bancos.
“Ela efetivamente levantou a questão: ´Vocês deram 700 bilhões de euros para o sistema bancário, quanto dinheiro têm para mim?´. E qual é a minha resposta? Se temos 700 bilhões de euros para estabilizar o sistema bancário, devemos ter pelo menos tanto dinheiro para estabilizar a geração jovem desses países. Somos campeões mundiais em cortes, mas temos menos ideias… quando se trata de estimular o crescimento.”
Do Valor Econômico