Participação de mulheres do Senai na Volks atinge a maioridade
Em julho de 1992, quando o Senai na Volks aceitou as primeiras aprendizes em seus cursos, a turma tinha duas mulheres. Hoje, elas representam 31% dos alunos na escolinha da montadora
Aprendizes no Senai VW. Foto: Raquel Camargo / SMABC
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o 8 de março, a Tribuna inicia esta semana a publicação de uma série de matérias sobre a participação das mulheres na qualificação profissional, na ocupação de postos de trabalho, na defesa de seus direitos, na luta contra a violência e nos cuidados com a saúde.
Na abertura da série, destacamos os 21 anos transcorridos desde que a primeira turma de mulheres foi admitida no Senai na Volks, empresa pioneira na formação de companheiras na base.
Em julho de 1992, quando as primeiras trabalhadoras entraram no Senai, a turma tinha duas mulheres e 58 homens. Hoje, elas representam 31% dos aprendizes na fábrica e mais de duzentas já cursaram Senai nos últimos 10 anos, segundo Geraldo Antonio de Freitas, o Geraldão, da Comissão de Fábrica e responsável pelo setor.
Conheça duas histórias de metalúrgicas que venceram o preconceito.
Michelle Marques. Foto: Raquel Camargo / SMABC
“Plantamos uma semente”
Há 20 anos, Michelle Marques ingressava como aprendiz de mecânica geral na segunda turma com participação de mulheres no Senai na Volks. Ela tinha 13 anos de idade
“Naquela época havia cota para mulheres. Era eu e mais uma companheira, a Andrea”, contou. “Sofremos muito, foi terrível. Quando chovia tínhamos que fazer educação física no vestiário masculino”, relembrou.
Michelle, que atualmente é do CSE, disse que a primeira turma foi preservada de alguns serviços mais pesados, por ser iniciante, mas na sua vez não houve qualquer privilégio.
“Os testes para nós e para os meninos eram iguais e nos diziam que se não fossemos capazes de executar as tarefas, nunca mais as mulheres teriam chances na produção”, afirmou.
Segundo a dirigente, os professores percebiam a importância de ter mulheres na fábrica. “Foi uma semente que plantamos, mas os frutos virão com o tempo”, disse Michelle.
Sarah Lucila Nuez. Foto: Paulo de Souza / SMABC
“Não existe diferença”
Recém efetivada na ferramentaria na Volks, Sarah Lucila Nuez, de 18 anos, afirmou que o preconceito por ser mulher existe, mas precisa ser quebrado. “Não existe diferença, quando nós cansamos, eles também cansam”, disse.
Para ela não é estranho trabalhar em um ambiente majoritariamente masculino, por ter dois irmãos mais velhos. “Estou acostumada com as brincadeiras deles e participava quando era criança das brincadeiras de ‘homem’, sem problemas”, afirmou.
Segundo a ferramenteira, a cada ano as mulheres conquistam mais espaço e direitos. “Antes não podíamos votar, nem ir pra escola, nem ler. Essa mudança é boa também para os homens”, garantiu.
Sarah está animada com os novos projetos para a planta de São Bernardo. “Com o novo Regime Automotivo, a fábrica está se reestruturando e temos a oportunidade de aprender com novas tecnologias”, disse a metalúrgica formada em mecânica e mecatrônica pelo Senai na montadora.
“O pior preconceito é o velado”
Apesar das empresas e do próprio Senai não admitirem que exercessem qualquer restrição à participação de mulheres, foi necessário os representantes dos trabalhadores na Volks contestarem a ausência de companheiras nas aulas para que elas tivessem oportunidade de começar a participar dos cursos.
“Era um preconceito velado, que é o mais difícil de ser quebrado”, afirmou Wagner Santana, o Wagnão, secretário-geral do Sindicato e do CSE na Volks.
Segundo ele, as mulheres podiam fazer os cursos, mas não sabiam disso e a empresa não tinha nenhuma estrutura para atendê-las. “Não existiam banheiros, vestiários, calçados apropriados para elas. As primeiras companheiras eram obrigadas a usar o banheiro do setor administrativo”, contou.
“Essa ausência de estrutura para é a prova definitiva que havia restrições para as mulheres”, destacou. “Afinal, isto aconteceu na Volks, que foi a primeira empresa na base a admitir a participação de mulheres em cursos do Senai”, concluiu Wagnão.
Da Redação