Passividade e ação

O próximo dia 28 de abril será dedicado à Memória das Vítimas de Acidentes no Trabalho, com
palestras organizadas por vários Centros de Referência em Saúde do Trabalhador espalhados pelo País e atos públicos realizados por sindicatos das mais variadas categorias. No dia seguinte, 29 de abril, voltaremos à velha rotina de insegurança e barbárie nas condições de trabalho, que
produzirão as vítimas para serem lembradas em 2011.

Seria cômico se não fosse trágico. Se não levasse dor, sofrimento e desamparo a mais de 10.000 famílias que perderam algum de seus membros definitivamente para o trabalho, seja por invalidez permanente, seja por morte. Se não significasse imenso custo social em perda de cidadãos qualificados profissionalmente e em plena idade produtiva. Se não implicasse em enorme despesa aos cofres públicos, na forma de pensões por morte ou invalidez, aposentadorias precoces, indenizações acidentárias.

Os números, apesar de serem referentes a 2007, os últimos publicados, nos ajudam a ter uma ideia mais clara da situação: São 653 mil casos de acidentes de trabalho registrados e mais 139 mil não registrados, ou seja, sem emissão da CAT.
80,7% são acidentes que ocorrem dentro das empresas, acidentes típicos.
15% são acidentes de trajeto.
4% são de doenças relacionadas ao trabalho.
0,4% de mortes, ou seja, mais de 2.600 trabalhadores.
1,2% de invalidez permanente, mais de 7.800 trabalhadores

Chama a atenção a constatação de uma sub-notificação de 22% do total de casos, que não tiveram a CAT emitida.

Diante dessa realidade precisamos repensar nossas estratégias em relação ao dia 28 de abril.

Transformar em dia de luta e de ação efetiva a passividade de um dia em Memória às Vítimas parece no mínimo uma atitude.

Porque homenagens à Memória das Vítimas, embora louvável, é um manifesto passivo que não pode ser classificado como atitude ou ação. E o movimento sindical que é, antes de tudo, movimento e ação, não pode ficar a reboque das instituições que fazem dessas datas
momentos de auto-afirmação da sua própria importância social, sem qualquer efeito prático, porque não alteram a realidade histórica que as estatísticas nos mostram ano após ano.

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente

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