Paulo Cayres: ´A riqueza tem que ser dividida´
Paulo Cayres, presidente da CNM, diz que vai lutar por reajustes salariais expressivos para a categoria no País
Andris Bovo |
Metalúrgico do ABCD, o presidente da CNM-CUT-SP (Confederação Nacional dos Metalúrgicos-Central Única dos Trabalhadores de São Paulo) e coordenador-geral do SUR/CSE (Sistema Único de Representação/Comissão Sindical) na Ford, Paulo Cayres, (Paulão), adianta em entrevista ao ABCD MAIOR que a entidade sindical irá lutar nas campanhas salariais deste segundo semestre para conseguir o repasse integral da inflação com aumento real dos salários.
ABCD MAIOR – Quantas campanhas metalúrgicas haverá no País? E quais são as expectativas para as negociações este ano?
Paulo Cayres – O País tem crescimento estimado do PIB (Produto Interno Bruto) em 5%, sendo assim, acredito que vamos conseguir tanto aumento real quanto o repasse integral da inflação. Vamos lutar por um reajuste forte em todo o País. Basicamente, devemos ter aproximadamente 62 campanhas metalúrgicas no Brasil. Em São Paulo temos mais de 15 sindicatos que negociam juntos, o que torna a campanha unificada. A cidade paulista é capital da indústria e os ganhos são muito altos, por isso, vamos lutar para conseguir um bom resultado. Neste primeiro semestre em Niterói, no Rio de Janeiro, o sindicato conseguiu 8% de aumento e 2% de aumento real. Além da cidade carioca, tivemos campanhas em Joinville, Santa Catarina e também em Açailândia, no Maranhão.
ABCD MAIOR – Já em São Paulo, quanto é o percentual de reajuste ideal?
Paulão – Bem, ainda é cedo para estipular um índice, mas já estamos estudando quais foram os rendimentos que a indústria paulista conquistou para que possamos pleitear um aumento ainda maior que os anteriores. Vamos elaborar uma negociação para apresentar dados concretos na mesa de negociação e arrancar de fato um resultado acima da inflação.
ABCD MAIOR – Os reajustes salariais podem ser um fator inflacionário?
Paulão – Acredito que não. As campanhas salariais são uma luta dos trabalhadores e os sindicatos patronais sabem da importância desses reajustes. A riqueza tem que ser dividida entre todos que cooperam para o crescimento do mercado e também do País. Sabemos que não será uma luta fácil, mas vamos trabalhar para que os trabalhadores possam ter um aumento expressivo em seus salários.
ABCD MAIOR – O governo em todas as suas esferas pode contribuir para que, de fato, este ano o reajuste no bolso do trabalhador seja superior ao dos anos anteriores?
Paulão – O governo Dilma está trabalhando para que o País continue na estrada de crescimento. Sabemos que os resultados não dependem apenas dos governantes, mas é claro que podem ajudar e já podemos sentir isso. A política econômica adotada está focada para que o Brasil continue conquistando números positivos. Nunca no nosso País tivemos uma taxa de desemprego como a de hoje. Ainda é relativamente alta, mas o País segue criando novos postos de trabalho e isso propicia o crescimento da nossa economia.
ABCD MAIOR – Como foi ser eleito este ano para dirigir uma entidade sindical que possui uma grande representatividade no País?
Paulão – É uma grande satisfação assumir a entidade. Fui perguntado qual marca desejo deixar, mas, na verdade, eu não pretendo deixar a minha marca, mas sim deixar a marca de um trabalho que será feito em conjunto com os demais dirigentes.
ABCD MAIOR – Quais são os projetos que o senhor pretende executar?
Paulão – O projeto central é trabalhar para extinguir o fator previdenciário, conquistar a redução de jornada sem a redução dos salários e também estabelecer o contrato coletivo de trabalho em todo o País. Vamos trabalhar para que todos os trabalhadores possam ganhar o mesmo salário, independentemente do Estado.
ABCD MAIOR – Nesse tempo (desde abril) que o sr. está à frente da entidade sindical, quais foram suas primeiras ações?
Paulão – Estive fazendo visitas em sindicatos espalhados pelo País e em algumas cidades pude ver que, nesses oito anos de governo do ex-presidente Lula, as cidades mudaram demais. O nosso comandante mostrou a todos que é possível governar para todas as classes e ajudar o Brasil a se desenvolver, e esse é um dos meus objetivos. Queremos que o salário no segmento metalúrgico possa ser o mesmo em todas as nossas cidades. Os trabalhadores operam da mesma forma, seja no Sudeste como Nordeste, e os preços dos automóveis também são os mesmos, portanto, uma das nossas metas é lutar pela equiparação salarial da categoria no mercado nacional. Se o objetivo do País é crescer cada vez mais, é preciso que os trabalhadores possam ter os mesmos salários.
ABCD MAIOR – Qual a importância de implantar os CSEs (Comitês Sindicais de Empresas)? O senhor pretende trabalhar em prol dessa questão?
Paulão – É uma forma de estabelecer a democracia no local do trabalho. A partir do momento que se tem uma entidade lutando pelos direitos dos trabalhadores é possível conquistar muitas vitórias. Basta ver o caso da Comissão de Fábrica da Ford que está completando 30 anos e também a própria CUT. Enfim, pretendo trabalhar com a diretoria para que essa ação e outras possam chegar a todas as fábricas do nosso setor por todo o País.
ABCD MAIOR – Nas fábricas em que existem os CSEs, as tomadas de decisões são mais rápidas? Que tipo de negociação é realizada?
Paulão – Com certeza são bem mais rápidas. Os CSEs podem ajudar no que for preciso dentro da empresa. Nosso objetivo é possibilitar que, qualquer problema que venha a aparecer, o nosso grupo possa ter conhecimento e auxiliar no que for preciso. Certa vez, em uma empresa, dois trabalhadores de uma montadora foram flagrados por um segurança pescando dentro de um tanque durante o horário de trabalho e, por isso, seriam demitidos por justa causa. Mas o CSE argumentou e a empresa decidiu rever a decisão. Enfim, tudo pode passar pela comissão.
ABCD MAIOR – Qual a diferença desse tipo de organização aqui no Brasil com as que existem em outros países como Alemanha, Estados Unidos e Espanha?
Paulão – A grande diferença nos Estados Unidos é que existem sindicatos por empresa. Sendo assim, a entidade sindical negocia somente na empresa em que atua. Nesses locais tudo é negociado e registrado em inúmeras páginas, diferentemente daqui, em que as nossas convenções se resumem a, no máximo, umas 50 páginas. Já na Espanha, existe um pluralismo sindical muito forte com inúmeras centrais sindicais e, muitas vezes, tem-se várias forças dentro da mesma empresa. Na Alemanha, a principal diferença é que existe um sindicato que negocia nacionalmente, a entidade tende a ter muita força e consegue resultados expressivos e positivos.
ABCD MAIOR – Um sindicato como o que existe na Alemanha poderia vir a funcionar da mesma forma no Brasil?
Paulão – Com certeza. E é isso que estamos tentando fazer com a CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos). Acredito que, se a nossa entidade continuar a crescer, vamos conseguir aumentar a nossa força e certamente poderemos conquistar resultados ainda melhores para os trabalhadores brasileiros.
Do ABCD Maior