Pazuello mente à CPI, cai em contradições e tenta blindar Bolsonaro

Apesar das evidências contrárias, o ex-ministro da Saúde disse que teve autonomia e negou interferências de Bolsonaro durante sua gestão

Em depoimento prestado ontem à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou a todo custo blindar Jair Bolsonaro, ao negar interferências em sua gestão na pasta. Entre outras afirmações, disse que Bolsonaro nunca deu ordem para que não comprasse vacinas produzidas pelo Instituto Butantan, apesar de o presidente ter afirmado que havia mandado cancelar acordo de intenção de compra da CoronaVac.

As declarações de Pazuello contradizem os depoimentos de seus antecessores Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que relataram intromissão de Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre a falta de respostas à Pfizer, que ofertou 70 milhões de doses ao Brasil, Pazuello se irritou e disse que, como ministro, não poderia participar diretamente das negociações.

De acordo com ele, todas as reuniões com representantes de empresas são feitas por secretários administrativos da pasta. Entretanto, caiu em contradição, pois se reuniu, em 3 de março deste ano, com a presidenta da Pfizer no Brasil, Marta Diez, e a presidenta da Janssen Brasil, Roy Benchimol.

Sobre a falta de oxigênio em Manaus, o general disse que só foi informado em 10 de janeiro deste ano à noite. Porém no dia 18 de janeiro admitiu que soube no dia 8 de janeiro, uma semana antes do dia mais grave de mortes por asfixia em leitos do estado.

O senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI, médico e ex-ministro da Saúde no primeiro governo Lula, declarou que Pazuello mentiu na CPI durante horas.

“O senhor tem que ser leal ao povo, e não a Bolsonaro. O senhor disse que não entrou nos consórcios das vacinas porque era caro. Qual o valor de uma vida, ministro? Outros países estão comprando até cinco vezes a quantidade de vacinas para a população e o Brasil não comprou nem para a metade”, afirmou.

“O senhor fala que teve autonomia e vem aqui repetir os argumentos do presidente da República. O senhor não teve autonomia nenhuma, fez tudo o que o presidente quis”, criticou.

Por volta de 17h30, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu suspender a sessão. O depoimento de Pazuello será retomado nesta quinta-feira às 9h30. Por conta disso, o depoimento da médica Mayra Isabel Correia Pinheiro, Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, conhecida como “Capitã Cloroquina” ficará para a próxima semana.

Ernesto Araújo

Na última terça-feira, 18, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo foi obrigado a admitir à CPI a omissão do governo Bolsonaro diante do colapso da saúde no Amazonas, em janeiro.

Em 19 de janeiro, chegou a Manaus um carregamento de 136 mil metros cúbicos de oxigênio hospitalar doado pela Venezuela. A CPI possui documento do governo venezuelano comprovando a doação. Ernesto Araújo admitiu que além de não ter feito esforços para enviar oxigênio à capital do Amazonas, sequer agradeceu o governo do país vizinho pela ajuda humanitária.

Também negou ataques à China, principal parceiro comercial do Brasil e fornecedora de insumos para fabricação de vacinas contra a Covid-19, mesmo tendo publicado artigos chamando o vírus de “comunavírus” e com ataques ao embaixador chinês.

439.379 vidas perdidas

O Brasil registrou 2.517 mortes de Covid-19 em 24h. O total chegou a 439.379 mortes desde o início da pandemia. A média móvel em uma semana foi de 1.953 óbitos por dia, variação de -16% em duas semanas. São 118 dias seguidos com média móvel acima de mil mortes por dia.

No total, foram 15.735.485 pessoas infectadas. A média móvel ficou em 64.348 por dia, variação de +9%. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa.

Receberam a 1ª dose da vacina 39,8 milhões de pessoas, o equivalente a 18,84% da população. A 2ª dose foi aplicada em 19,7 milhões de pessoas, 9,31% da população.