PCC volta a mostrar musculatura, diz jurista Walter Maierovitch
Em entrevista a Celso Marcondes do site da Carta Capital, Maierovitch vê a mão do PCC nos atentados que prosseguem em São Paulo
Os atentados que aconteceram na cidade de São Paulo nos últimos três dias permanecem envoltos sob uma névoa de dúvidas e especulações.
No domingo, o governador Alberto Goldman foi enfático ao afirmar que “não havia motivos para preocupações”. Mas a história continua muito estranha.
Os jornais da terça (3) dão conta de que a Polícia Militar matou sete pessoas nas 36 horas posteriores ao atentado contra o comandante da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) tenente-coronel Paulo Adriano Telhada.
Este número equivale ao total de mortos pela PM a cada dez dias, a média macabra que a instituição contabiliza no primeiro semestre do ano. As ações da PM aconteceram como reação a diversas ocorrências pela cidade neste período, tiroteios depois de assaltos, tentativas de roubo e fugas.
Na madrugada de ontem, mais quatro atentados aconteceram na capital e no ABC: um ônibus e três veículos foram incendiados. Eles se somam àqueles anteriores, os tiros disparados contra o quartel da ROTA, outros dez carros incendiados, o atentado citado contra o comandante.
O jornal O Estado de S.Paulo supõe que o ataque ao tenente-coronel foi uma represália pela morte do ladrão de joalherias “Vampirinho”, integrante da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Já a Folha de S.Paulo informa que Frank Ligieri Sons, o autor do atentado ao quartel – que foi morto na ação – era um ex-presidiário, irmão de um ex-PM. Frank seria um informante da PM quando estava preso.
Ao jornal, integrantes da polícia, do Ministério Público e o próprio secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto disseram que não encontraram indícios de ligação dos atentados ao PCC.
Já para o jurista e colunista do site, Walter Maierovitch, a explicação pode ser outra. Ouvido por CartaCapital, ele afirmou que “o PCC voltou a mostrar musculatura” e sua motivação deve ter outra natureza. A seguir, os principais trechos da sua entrevista:
CartaCapital: O senhor enxerga nestes atentados a marca do PCC?
Walter Maierovitch: Nenhum criminoso comum para ao lado do quartel general da ROTA, desce do carro e fica dando tiro.
Tem jeito de membro de grupo do crime organizado, do porte do PCC. Não do PCC dos arrojados ataques de maio de 2006, que paralisaram São Paulo. Mas de um PCC que volta a adotar a “tática do mergulho”: ataca e submerge.
A marca do crime organizado é difundir o medo. Se não fosse obra de organização criminosa, não teriam acontecido todos estes atentados, incluindo os quatro da madrugada de hoje (ontem, 3).
É indicativo de um plano organizado, não com o fôlego daqueles de 2006, mas com estas características: ataque e submersão.
CC: Mas por que o PCC? Autoridades têm afirmado que não se pode atribuir a ele a autoria?
WM: Em São Paulo, só o PCC teria semelhante ousadia. Eles fazem ações espetaculares, como atirar no quartel e no comandante. Quem realiza ações assim? Organizações do tipo “pré-mafiosas”, tipo PCC.
CC: E por que agora?
WM: Pode ser aproveitamento do período eleitoral, tentativa de influenciar o voto para ter poder de intimidação nos locais em que ele domina.Nada especial contra o comandante da ROTA. Procuram “pessoas notórias”.
Na Itália, era o que a máfia chamava de “cadáveres excelentes”. Sempre como um espetáculo. O fato é que o PCC voltou a mostrar musculatura. Apesar das autoridades dizerem o contrário, o PCC não está morto.
Da Carta Capital com Redação