“Perceber o futuro como mais importante que o presente é um privilégio de classe”
Foto: Edu Guimarães
O sociólogo Jessé Souza, autor dos livros ‘A tolice da inteligência brasileira’, ‘A radiografia do golpe’ e ‘A ralé* brasileira: quem é e como vive’ apresentou análise sobre a formação das classes e da desigualdade no Brasil, durante a abertura do Seminário de Planejamento do Sindicato, no último dia 5.
Confira alguns pontos da crítica social formulada pelo sociólogo
Escravidão
“Estamos acostumados a pensar que somos uma continuação de Portugal, e isso não é verdade. Em Portugal não havia escravidão e a escravidão moldou todas as nossas instituições”.
Complexo de vira-lata
“Ficamos como vira-latas da história e nos contrapomos aos americanos e europeus, inclusive moralmente, como se eles fossem honestos e nós desonestos por cultura”.
Corpo x espírito
“O ser humano é uma espécie entendida entre o animal e o divino. As classes superiores estão associadas ao espírito, o divino”.
Opressão social
“A classe trabalhadora está associada ao trabalho manual, animal. E esse racismo é assumido por quem é oprimido”.
Imbecilidade
“Fomos conduzidos como sociedade do corpo, os americanos e europeus são o espírito. Isso vai estar na base do ‘vamos entregar a Petrobras para os estrangeiros porque nós somos animais, corruptos, desonestos e eles são melhores’. Isso nos faz imbecis”.
Liberalismo
“Não por acaso, o conceito liberal tenta tornar invisível a produção da desigualdade. Então somos enganados pelo debate público completamente, isso implica que não percebemos o que é uma classe”.
Desigualdade
“Para o capitalismo financeiro é a mesma coisa se você está explorando homem, mulher, hétero, negro ou branco. Como a gente não vê a classe, a gente não vê como a desigualdade é construída”.
Homens X mulheres
“Os homens são associados ao espírito e as mulheres ao corpo, por conta disso, das 500 maiores empresas do mundo, 492 são comandadas por homens”.
Classe média
“A classe média é a classe do privilégio e ela vai se apropriar do outro capital que é extremamente importante para reprodução do capitalismo, o conhecimento valorizado”
Capitalismo
“Temos uma classe trabalhadora branca e os negros vão formar uma espécie de subclasse, porque no capitalismo essas classes vão ser redefinidas”.
Ódio
“Não que a cor produza a classe, mas cor vai ser um indicador onde as classes superiores vão poder identificar seu inimigo de um modo mais fácil. Essa classe vai ser explorada e odiada ao mesmo tempo”.
Concentração
“O cara da classe média, por conta dos estímulos como leitura e imaginação, chega com capacidade de se concentrar na escola. A classe média forma vencedores desde o berço”.
Privilégio
“E a classe ‘da ralé’* não tem concentração, porque ela tem que lutar pelo pão do dia de hoje. Ela é centrada no aqui e no agora. Ela não tem a dimensão do futuro. Perceber o futuro como mais importante que o presente é um privilégio de classe”.
Analfabetos funcionais
“Essa ‘ralé’ vai se transformar em analfabetos funcionais. E aí você tem uma classe de pessoas que não vão incorporar conhecimento no nível que o capitalismo exige de entrada”.
Exploração
“Se essa classe não pode ser explorada de modo racional economicamente, ela vai ser explorada como os animais são, pela tração muscular”.
Da Redação