Pesquisa da OIT aponta mais de 2 milhões de empregos verdes no Brasil

A maior parte dos trabalhadores está em setores alternativos aos transportes rodoviário e aeroviário, como o segmento metroviário, não poluente. Os outros dois campos que mais contribuem com o trabalho sustentável são o de energias renováveis e de telecomunicações

Na semana em que governos de todo o mundo se reúnem em Copenhague, Dinamarca, para discutir formas de frear o aquecimento global, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulga pesquisa sobre o número de trabalhadores brasileiros nos chamados empregos verdes, que aliam trabalho decente e baixo consumo de carbono.

De acordo com o estudo que a instituição apresentará nesta quarta-feira (9), 2,6 milhões de empregados no País atuam no segmento de energias renováveis.

Para definir o que é emprego sustentável, o levantamento com base na Relação Anual de Informações Sociais fornecida pelas empresas (RAIS) levou em conta o impacto do resultado final de cada atividade sobre o meio ambiente, independente do processo de produção.

Segundo estudo mundial mais recente da OIT, em 2006, cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo trabalhavam com carteira assinada na área de alternativas verdes de produção. Dessas, 943 mil estavam na China, líder do ranking, seguida por Brasil – 730 mil – e Estados Unidos – 406 mil.

Realidade brasileira – Conforme constata o coordenador de Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da OIT, Paulo Sérgio Muçouçah, o emprego no segmento de energias renováveis já é uma realidade em nosso País. “O percentual de postos de trabalho no setor é equivalente ao índice que encontramos na construção civil”, afirmou.

Outra boa notícia é a elevação da participação dos empregos verdes na economia brasileira. Apesar de pequeno, o ritmo de crescimento é constante: saltou de 6,52% do total de trabalho formal no País, em 2006, para 6,73%, em 2008.

A maior parte dos trabalhadores – 800 mil – está em setores alternativos aos transportes rodoviário e aeroviário, como o segmento metroviário, não poluente. Os outros dois campos que mais contribuem com o trabalho sustentável são o de energias renováveis – 547 mil – e de telecomunicações – 429 mil -, em especial o de teleatendimento. “Ao permitir que as pessoas possam resolver pendências pelo telefone ou internet, o serviço contribui com a diminuição da utilização de veículos e de emissão de gás carbônico no ar”, explicou Maçouçah.

Ele acredita que existam quatro áreas com grande potencial de geração de postos de trabalho verdes, primeiro por serem grandes empregadoras, segundo por emitirem elevada quantidade de carbono ou consumirem intensamente energias e recursos ambientai: extração mineral e indústria de base; construção, comercialização, manutenção e uso de edifícios; agricultura, pecuária, aqüicultura, caça e pesca, além de turismo e hotelaria.

Governos, empresários e sociedade

Para Paulo Muçouçah, caso governos, empresários, sindicatos e cidadãos unam forças na mudança do processo de fabricação e distribuição esses serão setores fundamentais para o aumento do emprego.

“O governo tem que estimular a adoção de novos padrões de produção e consumo por meio de políticas públicas como isenção fiscal, condicionada à contrapartida ambiental, e programas de incentivo à utilização de energia solar. Poderia aplicar isso no programa ‘Minha casa, minha vida’, por exemplo. Deve ainda estabelecer um critério mínimo aceitável de sustentabilidade na produção”, sugere.

Ele destaca ainda que a substituição de um modelo poluente por um novo pode render ainda mais lucros aos empresários. “A mudança irá diminuir custos, será benéfica à imagem da empresa e os empregadores poderão também atender a um mercado que cresce em velocidade espantosa. É o caso do comércio que ainda não tem capacidade de absorver a demanda pela agricultura orgânica”, aposta.

O coordenador da OIT comentou também as responsabilidades das entidades sindicais. “Os sindicatos podem exercer um papel importante ao cobrar de governos e empresas a qualificação dos trabalhadores para os empregos verdes”.

Ao cidadão, acredita Muçouçah, cabe o papel de pressionar o poder público e o mercado, inclusive deixando de consumir de quem não adota a produção responsável. “O Brasil é vanguarda na construção sustentável de edifícios, ganha prêmios no exterior, mas essa tecnologia não se generaliza. Muitas empresas preferem construir prédios que saem mais baratos agora, sem janelas e espaço adequados, mesmo que a longo prazo fiquem mais caros com a necessidade do condômino utilizar instrumentos de ventilação e iluminação”, critica.

O presidente nacional da CUT, Artur Henrique, também cita o exemplo da construção civil e defende que as mudanças não atinjam apenas as áreas centrais das cidades. “A mudança não pode ficar restrito à Avenida Paulista, à Avenida Faria Lima (regiões nobres da capital paulista). Precisamos mudar o processo de mudança de paradigma em toda a cadeia produtiva”, ressaltou.

O dirigente destaca a escola como um exemplo dessa transformação. “Estamos falando de construir escolas com caráter verde, com essa visão ambiental, que no fundo do prédio exista uma horta não só para servir os alunos, mas que eles possam participar do plantio e da colheita, em que a comunidade no entorno possa enxergar esse papel da escola”, afirmou.

Proposta cutista para Copenhague

Um documento elaborado pela CUT e as demais centrais sindicais com propostas sobre a questão climática ajudou a construir o plano que será apresentado pelo governo federal na Dinamarca.

As “Ações para Mitigação de Emissões até 2020” destacam a diminuição entre 36,1% e 38,9% de emissão de dióxido de carbono, patamar muito próximo dos 40% defendidos pelos trabalhadores.

Em relação aos empregos verdes, as centrais defendem a implementação de um processo de transição que envolve políticas públicas de capacitação profissional para os trabalhadores e a autonomia para monitorar e denunciar as empresas que descumpram essa política.

Mesmo antes do projeto conjunto das centrais, a CUT e o Ministério do Meio Ambiente assinaram um protocolo de acordo que dará aos sindicatos e às representações nos locais de trabalho o poder de participar dos projetos de política ambiental no interior das empresas de todos os ramos de atividade.

O ministro Carlos Minc também anunciou uma portaria que garante às entidades representativas dos trabalhadores o poder de fiscalizar o cumprimento de regras ambientais para aprovação dos Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA) e de licenças a novos empreendimentos.

Da CUT