PIB é melhor que o esperado, e serviços surpreendem, dizem especialistas

Setor de serviços cresceu, enquanto indústria e agropecuária caíram. Para economistas, desempenho não altera previsão para economia no ano

A queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre foi menor que a esperada e o setor de serviços surpreendeu ao crescer, segundo especialistas ouvidos pelo G1.

A economia brasileira encolheu 0,8% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores; na comparação de janeiro a abril de 2009 com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 1,8%. Para alguns economistas, embora tenha se caracterizado uma recessão técnica, a reação já começou. Comparativamente com outros países, o encolhimento do PIB brasileiro foi menor.

Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, e Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, o resultado do PIB no primeiro trimestre veio melhor que o esperado pelo mercado, mas o desempenho não alterou a previsão deles para o crescimento da economia no ano.

A Austin Rating espera expansão de 0,7% em 2009, enquanto a Rosenberg aposta em alta de 0,3% no PIB no ano. Já Alexandre Chaia, professor do Insper (ex-Ibmec de São Paulo), a expansão no ano deve ficar próxima de 0.

O setor de serviços registrou expansão de 0,8% na comparação com o último trimestre de 2008, enquanto indústria e agropecuária tiveram retração de 3,1% e 0,5%, respectivamente. Zara diz que o segmento de “outros serviços”, que reúne itens como alimentação, educação e saúde, foi o principal responsável pela expansão. “São coisas que dependem do salário, da renda, e não tanto do crédito, que foi mais afetado pela crise”, diz ela.

Agostini esperava retração do setor de serviços. Para ele, o desempenho do segmento de intermediação financeira (bancos) impulsionou o crescimento dos serviços. “O crédito, apesar de ter ficado mais escasso, continuou se expandindo e absorveu um pouco o desempenho ruim de outros setores”, afirma.

Chaia vê também um bom desempenho de segmentos dentro dos serviços que se beneficiam da crise, como empresas e consultorias que assessoram empresas em reestruturações, fusões e aquisições, por exemplo.

Já na indústria o cenário foi diferente: “só em março a redução do IPI deu um fôlego, mas aí já era o fim do trimestre”, diz Agostini. De acordo com Zara, todos os segmentos da indústria tiveram retração com a crise, que reduziu o crédito disponível e a demanda externa por produtos brasileiros. “Além disso, a indústria terminou o ano com estoques altos, e por isso produziu menos no primeiro trimestre”, diz ela.

Mas no segundo semestre a situação deve mudar, já que, com a manutenção do consumo, os empresários terão que investir para não perder espaço, segundo Chaia. “No primeiro trimestre houve muita incerteza entre os empresários quanto à economia, aos juros, ao dólar. Agora o grau de confiança está melhorando”, diz ele.

Um sinal disso é que a atividade no mercado de capitais melhorou, com novas emissões de debêntures (um tipo de financiamento) de empresas, diz Chaia.

A agropecuária também sofreu os efeitos da crise, com a escassez do crédito e a queda do preço das commodities no mercado internacional levando à redução da área plantada, segundo Zara. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou previsão de que a safra de grãos deve ser 7,5% menor em 2009 do que no ano passado.

Do G1