Pica-Pau retorna ao trabalho na B.Grob
Depois de 73 dias acampado em frente à fábrica, demissão do diretor do Sindicato é cancelada e empresa reconhece o Comitê Sindical.
Um direito reconhecido
“Teve momentos em que pensei em desistir. Nessas horas lembrava que a luta não era só minha, mas era uma batalha para defender conquistas que os trabalhadores levaram anos para alcançar. Recordava que meu ato significava resistir contra ações anti-sindicais. Foram esses pensamentos que me deram força para continuar”.
Com estas palavras, o mecânico hidráulico Luis Sergio Batista de Oliveira, de 41 anos, o Pica-Pau, retornou ontem pela manhã na Grob, em São Bernardo, depois de ficar acampado por 73 dias diante da fábrica, em protesto contra sua demissão arbitrária. Ele é membro do Comitê Sindical e da Cipa.
O dirigente voltou ao trabalho após longa negociação entre Sindicato e empresa, que terminou também com o reconhecimento do Comitê Sindical. O presidente do Sindicato, José Lopez Feijóo, destacou a importância da Grob ter reconhecido o direito de organização no trabalho. “Sempre que isso acontece é um avanço”, afirmou.
Solidão e esperança
Pica-Pau conta que a solidão do acampamento era quebrada pela solidariedade da categoria. Sempre havia a visita de algum metalúrgico do ABC como Comissões de Fábrica, militantes e dirigentes ou companheiro da Grob; além da presença de trabalhadores de outras categorias; de uma delegação de jovens do IG Metall, o sindicato dos metalúrgicos alemães; de políticos como o deputado Vicentinho e o senador Suplicy, ambos do PT, vereadores e da família.
Desta forma, a resistência de Pica-Pau ganhou apoio no Brasil e no mundo. Ele recebeu a solidariedade, entre outros, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), IG Metall, Comitês Internacionais de Trabalhadores da Mercedes-Benz e Volkswagen e até a colaboração da embaixada alemã, país de origem da B. Grob.
Merecem ainda destaque as paralisações na Mercedes, em São Bernardo, e na Ford, em Taubaté, defendida pelo presidente do sindicato, Valmir Marques, o Biro-Biro. Mas as negociações para a volta de Pica-Pau continuavam emperradas.
Luta garantiu a negociação
Toda essa movimentação em torno da luta de Pica-Pau permitiu a criação de mecanismos para que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o delegado regional do trabalho de São Paulo, Guiba, iniciassem no último dia 17 uma negociação que envolveu empresa e Sindicato na Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo (DRT-SP) e conclui com o retorno de Pica-Pau ao trabalho ontem.
José Paulo Nogueira, o Zé Paulo, diretor do Sindicato, e o secretário Rafael Marques estiveram na fábrica ontem comemorando o resultado do movimento, mas lembrou que ainda é necessário um grande esforço de organização dos trabalhadores na B. Grob e em outras empresas.