Política|Projetos diferentes

Eleição presidencial põe em jogo projetos diferentes quanto ao papel do Estado e do poder público nos rumos do país

Presidente Lula, após visita às
obras do campus
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Por Glauco Faria

 
Para muitos, o problema do Brasil é o tamanho do Estado.
Inchado, ele desperdiça recursos, onera o trabalho, o setor
produtivo e freia o crescimento. Para outros, é o
contrário. O poder público peca por
omissão e
não consegue chegar às classes mais baixas,
não
garante a todos direitos básicos como saúde e
educação e contribui para o aumento da
desigualdade no
país. Essa não é uma
discussão
à-toa. Embora nem todos possam notar, a próxima
eleição presidencial, mais que o natural
confronto entre
as personalidades de cada candidato, envolve
orientações
e projetos bastante diferentes.

Nem sempre é tarefa fácil distinguir as
candidaturas. Mas
com atenção ao histórico dos partidos
e às
declarações dos candidatos é
possível
delinear o perfil de cada um. Nesse aspecto, a candidatura à
reeleição do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva
baseia-se na continuidade da gestão atual. Seu partido
costuma
destacar o mérito de ter superado o que chama de
“herança maldita” dos oito anos do
governo anterior.
“Foram quatro anos que mudaram a qualidade do debate
político no Brasil”, explica o presidente nacional
do PT,
deputado federal Ricardo Berzoini (SP). “Hoje as
discussões não são mais calcadas em
crises, mas em
estratégias para os próximos anos. E
aí é
que queremos centrar o nosso programa: educação,
distribuição de renda e desenvolvimento
econômico”, afirma.

O mote da campanha lulista é a
superação das
dificuldades iniciais de sua administração,
principalmente na área econômica. A principal
delas seria
o controle da inflação, que, nos
últimos
três meses do governo FHC, chegou a 1,31% em outubro, 3,02%
em
novembro e 2,10% em dezembro. Esse índice, anualizado,
poderia
superar os 30%, o que não ocorreu. “Não
temos mais
angústia com crises externas, pois há um saldo na
balança comercial que nos dá segurança
cambial e,
graças a isso, temos uma perspectiva nos próximos
anos de
geração de empregos de forma não
apenas a
sustentar o crescimento da massa salarial, mas também
aumentar a
contribuição para a Previdência
Social”,
assegura.

Em discurso quando assumiu sua candidatura, Lula definiu o tom que vem
sendo dado à sua campanha: “Se, com a tormenta
política que enfrentamos, conseguimos recuperar o Brasil,
imaginem o que não poderemos fazer, num segundo governo, com
mais experiência e com pleno conhecimento da
máquina. Se
reeleito, quero fazer um governo que reúna o que tiver de
melhor
na sociedade brasileira para mudarmos, ainda mais, o Brasil. Quero
fazer um governo que amplie nossos compromissos com os mais pobres,
pois o melhor caminho de servir melhor a todos é atender
primeiro os que mais necessitam”.

A senadora Heloísa Helena, do PSOL, vem tentando resgatar
algumas bandeiras que eram utilizadas por boa parte dos petistas.
Não à toa, atraiu com elas, para a
formação
do novo partido, alguns quadros do PT, entre eles o candidato ao
governo paulista Plínio de Arruda Sampaio. “A
candidatura
do nosso partido tem coerência política. Fazemos
alianças programáticas, e não
pragmáticas,
com partidos fisiológicos, como fazem Lula e
Alckmin”,
provoca o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ).

O PSOL aposta na personalidade forte de sua candidata, encampando o
slogan “Coração Valente”
também como
forma de marcar diferença em relação
ao PT no
campo da ética. “A corrupção
é
sistêmica, não foi inventada pelo governo Lula ou
pelo PT,
mas precisa ser combatida de forma firme. Há uma
tolerância em relação a esses desvios
de conduta
que alim