Ponto de Vista|O desafio do quatriênio

Por Mauro Santayana

Com a queda do socialismo e o predomínio da economia neoliberal, o
mundo andou cem anos para trás. Está na hora de os trabalhadores
prepararem-se para a reconquista das posições perdidas

O novo mandato presidencial e a nova legislatura se
iniciam em um ano que está sendo anunciado, na Europa, como crucial
para o futuro do homem. Não se trata apenas do problema ecológico –
esse, por si só, dramático -, mas também do novo quadro político
mundial. Os Estados Unidos caíram em uma armadilha, ao criar a
globalização neoliberal, crendo que ela garantiria (ao lado do poder
militar) a continuidade de sua hegemonia, em seqüência à derrocada do
sistema soviético. Quem realmente se aproveitou dessa manobra foi a
China e, com ela, alguns países asiáticos e seus vizinhos, como a Índia.

Conforme
a análise de observadores internacionais, a unipolaridade do mundo, com
os Estados Unidos no comando, durou pouco. A ascensão da China e a
reação política de parte da União Européia trouxeram a multipolaridade.
E como não pode, em uma esfera, haver mais de dois pólos, deixou de
haver pólo, ou, como diz outro observador norte-americano, o mundo
deixou de ser esférico: ficou plano – ou chato.

A
direção política do Brasil, em seus Três Poderes, tem de levar em conta
essa circunstância histórica, a fim de assegurar a defesa de nossos
interesses no mundo. E, como estamos no mesmo mundo, alguns de nossos
problemas internos em pouco se diferenciam dos problemas advindos da
decadência dos Estados nacionais, em favor do Mercado, a partir da
queda do Muro de Berlim.

A
existência do sistema socialista soviético pode ser hoje contestada, em
razão das deformações do stalinismo. Mas os trabalhadores do mundo
inteiro devem ao regime alguns decênios de alívio na exploração
sistemática a que estavam submetidos. A adoção, na maioria dos países
ocidentais, de normas como oito horas diárias de trabalho, descanso
semanal remunerado, férias anuais e garantia de emprego se deve ao
temor de que o movimento sindical se organizasse revolucionariamente
para a tomada do poder nos países capitalistas.

Tanto
é assim que, logo depois da defecção de Mikhail Gorbachev (presidente
da ex-União Soviética de 1985 a 1991), todos os direitos trabalhistas
começaram a ser reduzidos nos países que os respeitavam, como é o caso
do Brasil. Os governos nacionais, em nome de uma eficiência que só
interessa aos empresários, passaram a flexibilizar as relações
trabalhistas, com os resultados que conhecemos. Com a queda do
socialismo e o predomínio da economia neoliberal, o mundo andou cem
anos para trás.

A situação
começa a mudar. A derrota militar norte-americana no Iraque pode levar
o governo de Washington ao bom senso de uma retirada com o mínimo de
honra, ou – o que parece mais provável – a uma ampliação da guerra ao
Irã e à Síria, o que pode retardar o desastre militar, mas não o
evitará. A ascensão da China, não apenas econômica como militar, como
comprovam seus recentes êxitos espaciais, também contribui para o
esmaecimento da arrogância norte-americana. Todos os movimentos
geopolíticos terão de se subordinar a essa nova realidade. Sendo assim,
poderemos dispor de maior espaço para as reivindicações sociais na
América Latina.

Os trabalhadores
sabem, por sua penosa experiência, que só na luta conseguem melhorar
pouco a pouco suas condições. Os últimos anos foram de forçado recuo. A
“modernização” do parque industrial brasileiro, com a robotização e a
dispensa de milhares e milhares de pessoas, levou os trabalhadores à
prioridade da luta pela preservação do emprego. Mas já é hora de se
prepararem para a reconquista das pos