Por que não se fala mais de inflação?

Artigo da Subseção do Dieese no Sindicato explica como a menor variação dos preços atualmente é benéfica ao trabalhador

Dona Eulália pediu à sua empregada Alice que fizesse um bolo. Enquanto a massa era preparada, as duas conversavam sobre os problemas do dia a dia.

Alice comentou com a patroa, uma economista de prestígio, sobre uma conversa que tivera com seu marido, na véspera, sobre campanha salarial. Em certo momento, comentou:

– Sabe, patroa, às vezes tenho saudade daquele tempo em que o Brasil tinha inflação alta! Todo o mês meu marido tinha aumento de salário! Agora, pelo que ele disse, o aumento será pequeninho por conta da inflação baixa.

Dona Eulália sorriu e respondeu:

– Não diga besteira, Alice! É um engano muito grande achar que seu marido tinha aumento de salário! Na verdade, o que ele recebia era uma reposição salarial, pois quando há inflação os preços dos produtos aumentam muito e o poder de compra do salário diminui.

Alice pareceu não entender. Dona Eulália prosseguiu:

– Você ficava feliz com o salário do seu marido, que aumentava todo o mês, mas quando ia ao supermercado não conseguia comprar muita coisa, porque os preços já estavam maiores que no mês anterior, certo? Isso é o que chamamos de inflação, que muda toda a economia de um país. Na verdade, o Brasil já viveu momentos de hiperinflação, nos quais os preços aumentavam tanto que as pessoas não guardavam seu dinheiro nem por poucos dias, dada a rapidez com que ele perdia seu valor de compra.

– É verdade patroa! Lembro de como era ruim ir ao mercado e ver aquelas pessoas remarcando os preços com as maquininhas. Quase todo dia eles faziam isso! – disse Alice.

– Pois é! Ainda bem que isso mudou. Hoje o Brasil vive o que chamamos de estabilidade econômica, quer dizer, a inflação está controlada e os preços já não sobem tão rápido quanto antigamente. Isto é bom porque as pessoas podem programar seus gastos, fazer poupança, negociar melhores preços. No dia a dia já não comentamos sobre inflação, pois se ela está controlada não temos do que nos queixar. Mas, quando chega a campanha salarial, é comum o tema entrar em discussão. É quando nos damos conta de que a inflação está baixa.

– Agora estou entendendo! Se a inflação está baixa, o mesmo dinheiro que eu gastei para fazer despesa neste mês eu gastarei no mês seguinte. É isso?

– É sim!

– Mas porque o feijão ficou tão caro há uns meses atrás se a inflação está baixa?

– É que sempre haverá variação de preços em alguns produtos devido a diferentes motivos. No caso do feijão houve um problema na safra, pois às vezes chove muito ou não chove nada, o que resulta numa queda da colheita. O preço do feijão subiu devido a colheita menor. Mas veja o caso dos aluguéis. O índice que mede a inflação dos aluguéis é o IGP. Como no mês passado este índice ficou negativo, o preço dos aluguéis não poderá ser reajustado. Um preço compensa o outro. Entendeu?

O telefone toca e Alice vai atendê-lo. Antes, confirma com um sorriso para sua patroa que agora entendeu o que foi explicado.

Saiu pensando que deveria conversar com seu marido o que tinha aprendido. Era tão teimoso que talvez não quisesse ouvi-la. Quem sabe dona Eulália não poderia lhe dar umas aulas. Quem sabe?

Se você tem alguma dúvida em relação a este tema, escreva para a subseção Dieese contanto sua dificuldade. O endereço de e-mail é sumetabc@smabc.org.br

Da Subseção do Dieese