Por que se envolver na luta contra o preconceito racial
Busca de igualdade e oportunidades para todos norteia prática das entidades comprometidas com os trabalhadores
O envolvimento do movimento sindical na luta contra o preconceito racial é relativamente recente, mas muitos frutos já surgiram por conta dessa união.
É na década de 90 que o movimento anti-racismo toma corpo e cresce no meio sindical, quando sindicalistas negros e brancos começam a desenvolver propostas para combater a discriminação no trabalho e na sociedade.
A preocupação vem fortalecer o conceito de sindicato cidadão, adotado por várias entidades filiadas à CUT.
No caso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que tem como uma de suas ações de cidadania promover a igualdade de oportunidades para todos, além de combater todo o tipo de discriminação, a história começa a se tornar realidade em meados de 1984, quando o presidente era Jair Meneguelli.
Ele convida para uma palestra na Sede a então militante negra do PT Benedita da Silva, que estava em ascensão política no Rio de Janeiro.
Nesse encontro, Benedita questiona a ausência de uma comissão que pudesse discutir questões dos trabalhadores e trabalhadoras afro-descendentes. É o primeiro passo para formação do grupo, que em sua primeira reunião conta com a presença do historiador Clóvis Moura (1925-2004), autor de obras sobre o escravismo no Brasil.
Atuação – “A comissão de combate ao racismo tem como objetivo desenvolver ações que busquem uma paridade para o afro-descendente. Cobramos cláusulas sociais, políticas afirmativas e por meio de informação e da formação, com a realização de oficinas e debates, tentamos conscientizar que as nossas diferenças estão apenas na personalidade e devem servir para somar, não para segregar”, explica Ana Nice, do Comitê Sindical na Panex e coordenadora da Comissão.
Ela destaca que o movimento sindical engajado chama a responsabilidade do Estado e das empresas, com elaboração de propostas tripartites, levando-se em consideração o tema raça/cor em todos os aspectos da vida.
A Comissão fiscaliza para que todas as entidades respeitem as convenções da ONU e OIT referente às discriminações raciais. “Com isso o trabalho do movimento sindical realmente passou a ganhar cada vez mais ênfase no plano de combater a discriminação, como a criação do Plano Nacional da CUT pela igualdade de oportunidade para a população negra no mercado de trabalho, elaborado em 1998”, aponta Ana Nice.
Quem não é negro no Brasil?
Definir quem é negro e quem não é no Brasil não é tarefa fácil. Segundo entrevista concedida ao Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) da USP, o antropólogo Kabengele Munanga, professor-titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a questão é “problemática”, sobretudo quando se discutem políticas de ação afirmativa, como as cotas para negros em universidades públicas.
“Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política”, afirmou Munanga.
Segundo ele, “num país que desenvolveu o desejo de branqueamento não é fácil apresentar uma d