Por que tanto medo do Queiroz?
A sociedade quer saber o que o laranja da família Bolsonaro, escondido há mais de um ano, tem a dizer sobre o suspeito esquema de corrupção que envolve o clã
Essa é a principal pergunta que fica após a prisão, na manhã de hoje, do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo pessoal do presidente Bolsonaro, utilizado como laranja por eles, Fabrício Queiroz.
Ele foi encontrado em Atibaia, interior de São Paulo, em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro. Segundo o caseiro do local, Queiroz estava no local há cerca de um ano. Wessef e os bolsonaros sempre disseram que não sabiam do paradeiro de Queiroz.
A ação conjunta entre os Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e o de São Paulo, que resultou na prisão de Queiroz, cumpriu mandado expedido pela Justiça do Rio de Janeiro e é mais um desdobramento da investigação que apura esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A prisão de Queiroz foi pedida, porque segundo o MP do Rio de Janeiro, ele continuava cometendo crimes, estava fugindo e interferindo na coleta de provas. A Justiça autorizou também a prisão da mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar.
Dito tudo isso, ficam diversas perguntas, conforme levanta o diretor administrativo do Sindicato, Moisés Selerges. “Por que tanto medo que se prenda o Queiroz? Por que mentiram dizendo que não sabiam onde ele estava, se ele estava na casa do próprio advogado da família Bolsonaro? Se quem não deve não teme, por que Queiroz estava escondido?”
Outras questões que precisam ser esclarecidas “Se o cara é um policial militar no Rio de Janeiro como que conseguiu movimentar R$ 1.2 milhões? Ele disse que vende carro. Que mercado é esse tão promissor? E por que esse silêncio de Bolsonaro que nem falou hoje com seus apoiadores no cercadinho, como faz diariamente? Seguimos intrigados, aguardando as respostas, da justiça e do senhor presidente da república”, concluiu Moisés.
Relembre os detalhes do caso
Movimentações atípicas e cheque para a esposa do presidente – Policial militar aposentado, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta bancária de maneira considerada “atípica”, segundo relatório do antigo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), o que deu início às investigações. Uma das transações é um cheque de R$ 24 mil destinado a Michelle Bolsonaro, esposa do presidente.
Rachadinha – O documento revela que a maior parte dos depósitos em dinheiro, feitos na conta do ex-motorista de Flávio Bolsonaro, coincidem com as datas de pagamento na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Para não atrapalhar a eleição – Em 18 de dezembro de 2018, poucas semanas antes de Bolsonaro tomar posse, o documento do identificou uma série de transações financeiras atípicas em contas de assessores de parlamentares, entre eles, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. A operação teria sido adiada para não afetar eleição de Bolsonaro.
Interferência na PF – O andamento das investigações foi um dos motivos para que Bolsonaro interferisse diretamente na troca do comando da PF no Rio de Janeiro.
Ligação com o miliciano Adriano da Nóbrega – Segundo as investigações, Queiroz confiscava em média 40% dos salários dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj e repassava parte do dinheiro ao ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, executado pelo polícia, apontado como chefe do Escritório do Crime, milícia especializada em assassinatos por encomenda que atua na zona oeste do Rio.
Caso Marielle Franco – Outro importante personagem do Escritório do Crime, o major Ronald Paulo Alves, apontado por Beto Bomba como responsável por organizar o grupo de assassinos que executariam Marielle Franco e Anderson Gomes, também foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj.