Por um Brasil sem medo

Mutirão Contra a Violência - Artigo publicado pela Folha de SPaulo em 12-06-2002

Há cinco meses, o prefeito Celso Daniel foi seqüestrado e assassinado. No ABC, em São Paulo, no Brasil inteiro, a cidadania se vestiu de luto para simbolizar a profunda dor representada por aquela perda. Nós sabíamos que Celso Daniel não era a primeira, nem seria a última vítima. Por isto, de punhos fechados, uma multidão de cidadãos de todo o Brasil, de todas as cores e credos, jurou aos pés do caixão de Celso Daniel exigir justiça e reagir com todas as forças para que crime como este não se repetisse jamais.

Os meses se passaram e outras milhares de vítimas foram contabilizadas sem que, de fato, pudéssemos perceber a adoção de medidas concretas para estancar a ferida. Em sã consciência, não é mais possível querer achar que a solução para acabar com o crime entre jovens de 14 a 17 anos, entre eles o assassino confesso de Celso Daniel, seja exterminá-los um a um a tiros de revólver na cabeça, como parece entenderem algumas autoridades.

Diante da inação das autoridades, e como parte da resposta que os brasileiros começam a organizar em todo o País, nosso Sindicato tomou a iniciativa de propor aos demais sindicatos do ABC, às prefeituras, entidades empresariais, ONGs, comunidades religiosas, associações empresariais, à imprensa, escolas, faculdades e todas as possíveis instituições da sociedade civil, um dia inteiro de Mutirão contra a Violência.

A data escolhida para o evento será a próxima sexta-feira 14 de junho. Em nossa visão, o Mutirão será um verdadeiro marco na tomada de consciência e afirmação de um compromisso entre trabalhadores, autoridades públicas, lideranças políticas, empresários e todas as comunidades do ABC quanto à necessidade de pensarmos e implementarmos medidas concretas de combate à violência, em termos imediatos.

Esse Mutirão contra a Violência consistirá de um conjunto de atividades, todas concentradas no dia 14. Ele vai começar na madrugada, entre 5h e 7h, quando realizaremos assembléias nas portas das dez maiores indústrias da região, incluindo todas as montadoras e o pólo petroquímico. Nestas assembléias nós queremos envolver um total de 20 mil trabalhadores.

Entre 11h e 13h, serão organizadas tribunas-livres nos pontos de maior concentração popular (centros comerciais) de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá. O objetivo aqui será dialogar com milhares de cidadãos que transitam por estes pontos.

Também no período da manhã, bem como à tarde e à noite serão promovidos debates sobre o tema nas faculdades e em entidades como a OAB e associações representativas da sociedade regional. No fim da tarde, entre 17h e 19h, terá lugar na sede central de nosso Sindicato, no centro de São Bernardo, um painel sobre o tema A violência: como enfrentá-la já. Deste painel participarão o ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, o bispo diocesano, D. Décio, representante dos empresários e outras autoridades que estão sendo agendadas.

Entre 19 e 21 horas um novo painel, também na nossa sede, reunirá prefeitos do ABC e da região metropolitana para discutir o tema Violência e o poder municipal. A prefeita Marta Suplicy já está agendada. No mesmo horário também estarão sendo realizadas palestras sobre o tema em cerca de 30 escolas, comunidades religiosas, e associações de moradores.

Em resumo, com este Mutirão contra a Violência, nós queremos levar uma mensagem de compromisso frente à questão da violência a muitos milhares de cidadãos do ABC. A idéia é reforçar sempre a necessidade de iniciativas imediatas – concretas – onde se somem as energias de trabalhadores, comunidades, lideranças políticas, poderes públicos e empresários para equacionar o problema.

Nós sabemos que o problema da violência só terá solução no momento em que toda a sociedade estiver engajada em resolvê-lo. Nosso empenho é em trabalhar para que cada cidadão tome consciência da necessidade de construirmos no nosso País um grande mutirão contra a violência.