Preços da cesta básica têm alta generalizada e pesam sobre mais pobres

Para cobrir as despesas de uma família de quatro pessoas, salário mínimo deveria ser de quase R$ 5 mil, segundo levantamento do Dieese

Os preços da cesta básica subiram, em setembro, nas 17 capitais pesquisadas, de acordo com levantamento feito pelo Dieese. No ano, o instituto só não apurou alta em Brasília. No acumulado em 12 meses, o aumento também é generalizado, de acordo com os dados divulgados no último dia 6.

O Dieese calculou em R$ 4.892,75 o salário mínimo necessário para as despesas básicas de um trabalhador e sua família (de quatro integrantes). Esse valor corresponde a 4,68 vezes o mínimo oficial (R$ 1.045). Em agosto, essa proporção era de 4,34 vezes. Em apenas um mês, o mínimo necessário aumentou em R$ 356,63.

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a inflação continua impactando mais o custo de vida de pessoas com renda mais baixa. De acordo com a pesquisa de agosto, a inflação, no ano, chegou a 1,50% para famílias mais pobres, enquanto as famílias mais ricas tiveram uma deflação acumulada de 0,07%.

Impacto das políticas ultraneoliberais e ultraconservadoras

Para o presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, essa situação que agrava ainda mais a crise para os mais pobres é resultado de uma política ultraneoliberal e ultraconservadora liderada pelo governo Bolsonaro.

O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, recebeu o título de cidadão são-bernardense. 01.10.2020 Fotos: Adonis Guerra/SMABC

“Neste período de crise agravada pela pandemia, temos assistido no Brasil o aumento da concentração de renda e, por consequência, o aumento da desigualdade. É óbvio que isso não é resultado só da crise econômica que o mundo atravessa, mas também de políticas ultraneoliberais, ultraconservadoras que têm causado um aumento exponencial da desigualdade no Brasil”.

“Infelizmente o que ainda está em curso são políticas de desregulamentação do mundo do trabalho, o encerramento de políticas de proteção social para aqueles que momentaneamente precisam que o Estado lhes de amparo. Como consequência disso, o dinheiro que rola na sociedade vai para as mãos daqueles que já têm muito dinheiro. Isso aponta para uma degradação total da nossa sociedade e a desproteção daqueles que precisam, trabalhadores e trabalhadores informais, aqueles que não encontram trabalho por um determinado período porque não tem emprego”, complementou.

O presidente citou pesquisa recém divulgada pelo jornal Valor Econômico que aponta que os CEOs das empresas ganham no Brasil por volta de 600 vezes mais do que o trabalhador comum. O salário médio anual de um CEO no país em 2019 foi de R$ 11,1 milhões – excluídos os bancos, esse valor cai para R$ 9,7 milhões.

“Isso é uma cultura da nossa sociedade de que aqui não se deve proteger ou tratar como igual a nossa população, existem grupos de castas de privilegiados que acham normal ter uma vida absurdamente melhor do que a maioria da população”.

Tem incentivo, mas não tem auxílio emergencial?

 “Outra questão importante a se analisar é que neste momento de pandemia, em que o governo está discutindo teto de gastos para saber de onde vai tirar verba para pagar as parcelas do auxílio emergencial, dá incentivo fiscal para as montadoras”.

Altas nos preços

Apenas no mês passado, as maiores altas foram registradas em Florianópolis (9,80%), Salvador (9,70%) e Aracaju (7,13%). Na cidade de São Paulo, o aumento foi de 4,33%.

Os preços médios variaram de R$ 422,31 (cesta básica em Natal) a R$ 582,40 (Florianópolis).

Mais de 30% em um ano

De janeiro a setembro, o aumento do preço médio da cesta básica varia de 8,04% (Vitória) a 27,41% (Salvador). O Dieese apurou queda de 5,94% em Brasília. Em 12 meses, todas as capitais têm alta, que vão de 6,13% (Brasília) a 33,12% (Salvador), atingindo ainda 30,46% em Goiânia, 29,87% em Aracaju e 28,02% em Florianópolis. Em São Paulo, a cesta subiu 18,89%.

Alimentos e bebidas

Mais da metade (53%) da variação total da inflação dos mais pobres em agosto veio dos alimentos e bebidas. Boa parte da alta de preços deste ano se deve a alimentos de grande consumo para as famílias, como arroz (19,2%), feijão (35,9%), leite (23%) e ovos (7,1%).