Preços disparam e maio registra maior inflação desde 1996
Falta de medidas econômicas do governo, alta do dólar, questões climáticas e atraso na retomada da economia são alguns responsáveis pela inflação
O aumento nas tarifas de energia elétrica, de 5,37%, puxou a inflação de maio que chegou a 0,83%, a maior taxa para o mês desde 1996, quando atingiu 1,22%. O índice acumula alta de 3,22% no ano e de 8,06% nos últimos 12 meses, de acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada mensalmente pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), entre abril e maio deste ano, o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em 14 cidades e diminuiu em duas das capitais pesquisadas. São Paulo tem a segunda cesta mais alta do país, R$ 636,40, atrás apenas da de Porto Alegre (R$ 636,96).
O levantamento aponta que o valor do salário mínimo necessário ficou estimado em R$ 5.351,11, o equivalente a 4,86 vezes o mínimo vigente, de R$ 1.100.
Desemprego e salários baixos
O diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, destacou que essa alta nos preços atinge principalmente as famílias de baixa renda e criticou a falta de medidas econômicas por parte do governo federal num momento em que o desemprego e a informalidade batem recordes.
“O aumento nos preços penaliza, sobretudo, as famílias mais pobres por conta da forte alta no valor dos alimentos e não há nenhuma política para resguardar o direito e a necessidade de as pessoas comerem, terem acesso ao alimento. O governo não dá condições necessárias para que essas famílias sobrevivam”.
O dirigente reforçou que enquanto os preços aumentam, também da energia e dos combustíveis, não há aumento dos salários, da renda média dos trabalhadores e da população em geral. E lembrou também que a alta nos combustíveis afeta grande parte dos trabalhadores informais, os entregadores e motoristas por aplicativo, seja de carro ou moto.
“A falta de uma política governamental de estruturação do país, de aceleração da vacina e de internalização de insumos básicos tanto para a indústria como para prover a alimentação das pessoas, tem afetado demais os trabalhadores. Não tem emprego, com o baixo poder de consumo, a população foca nos produtos de primeira necessidade. Além disso, há uma estagnação econômica por falta de indução estatal que possa alavancar, sobretudo, o crescimento industrial, que no caso do Brasil é um dos grandes fomentadores da atividade econômica.”
Alta nos preços
O coordenador da subseção do Dieese no Sindicato, Luís Paulo Bresciani, explicou alguns fatores que contribuem para a elevação dos preços. Entre eles a questão climática, a alta do dólar em relação ao real e o atraso na retomada econômica no contexto de pandemia.
“Existem vários elementos que pressionam a alta da cesta básica como o óleo de soja, queda na moagem do açúcar, entre safras, queda na oferta de carne, de café, além das questões climáticas.”
Bresciani ressaltou que a falta de chuvas prevista para o segundo semestre pode resultar em restrições de consumo e manter a inflação em alta.
“Em relação às questões climáticas, não só aquilo que já é sentido em algumas culturas agrícolas como é o caso do café, mas também tem a restrição hídrica que vamos viver no segundo semestre com possíveis restrições de consumo. Isso vai causar impacto na atividade agrícola, na agricultura familiar, nas cidades. A crise hídrica pode contribuir para que os patamares de inflação persistam nesse nível mais elevado”.
Insumos para a indústria
A alta do dólar, explicou, pressiona os insumos importados que são muitos na indústria e também pressiona o preço de vários produtos industrializados.
“Como a nossa indústria depende de insumos importados, acaba tendo um efeito cascata com interrupções de produção, queda de oferta e pressão nos preços. O preço do combustível é outro fator que pressiona a distribuição de alimentos, por exemplo.”
Sem vacinação
Outra questão, segundo o coordenador, é a própria velocidade da retomada. “A medida em que a vacinação avança numa velocidade muito lenta e a economia não se recupera, principalmente o consumo das famílias, mas também o investimento privado e público, há uma pressão de oferta que rebate nos preços”, concluiu.