Presidente diz que cobra ambição de ricos em conferência do clima

"O veredicto da história não poupará os que faltarem com sua responsabilidade.É inaceitável que os países menos responsáveis pela mudança do clima sejam os mais prejudicados. Esta conferência não é um jogo no qual cada um pode esconder suas cartas na manga", disse Lula em Copenhague

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigiu nesta quinta-feira (17) mais ambição dos países ricos nas negociações sobre o clima e afirmou que a história cobrará a fatura dos que não cumprirem com suas responsabilidades.

“Os países desenvolvidos devem assumir metas ambiciosas de redução de emissões à altura de suas responsabilidades históricas e do desafio que enfrentamos”, disse Lula em discurso na conferência do clima, realizada em Copenhague, junto a diversos chefes de Estado que também fizeram depoimentos.

“O veredicto da história não poupará os que faltarem com sua responsabilidade.”

Em seu pronunciamento, Lula defendeu um aumento máximo da temperatura média global de 2 graus centígrados como referência nos compromissos dos países.

“A ambição de reduzir em 50 por cento as emissões globais de gases do efeito-estufa em 2050 em comparação com o ano de 1990 ajudará a assegurar esse objetivo”, afirmou.

As negociações na conferência de Copenhague, iniciada no dia 7 deste mês e que termina na sexta-feira, vive um impasse por conta de disputas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Entre os obstáculos está a divisão da redução de emissões de gases-estufa e de onde virão bilhões de dólares em financiamento para que países pobres lidem com as mudanças do clima.

Lula afirmou que a meta do Brasil de reduzir suas emissões em até 39 por cento até 2020 exigirá recursos da ordem de 160 bilhões de dólares.

“É inaceitável que os países menos responsáveis pela mudança do clima sejam os mais prejudicados”, disse.

“Essa conferência não é um jogo onde se possa esconder cartas na manga. Se ficarmos à espera do lance de nossos parceiros, podemos descobrir que é tarde demais. Todos seremos perdedores”, criticou Lula.

KYOTO REFERÊNCIA

O presidente defendeu ainda a manutenção do Protocolo de Kyoto, de 1997, segundo o qual os países industrializados, exceto os Estados Unidos que não ratificaram o acordo, terão de reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2012.

Durante a cúpula de Copenhague, países africanos chegaram a abandonar brevemente as conversações por considerarem que o mundo em desenvolvimento buscava “matar Kyoto”.

“A preservação do Protocolo de Kyoto é absolutamente necessária. Ele não pode ser substituído por um instrumento menos exigente”, afirmou Lula.

“Os países desenvolvidos devem tomá-lo como referência para a definição de metas de cortes profundos”, argumentou.

O presidente ressaltou ainda a importância de controlar o aquecimento global para permitir o crescimento econômico e superar a exclusão social.

“A mudança do clima é um dos problemas mais graves que enfrenta a humanidade. Controlar o aquecimento global é fundamental para proteger o meio ambiente, permitir o crescimento econômico e superar a exclusão social”, disse Lula.

PARTIDA DE PÔQUER – A negociação de Copenhague, destinada a elaborar um novo acordo mundial de luta contra a mudança climática, não é uma partida de pôquer na qual cada um age em função das apostas dos demais, criticou Lula, “Esta conferência não é um jogo no qual cada um pode esconder suas cartas na manga”, afirmou Lula falando na tribuna ante as 193 delegações presentes.

“Se esperarmos que nossos sócios façam suas apostas, podemos descobrir que é muito tarde e todos nós seremos perdedores”, advertiu.

Aludindo ao princípio de responsabilidade comum, mas diferenciada, Lula pediu aos países industrializados que se comprometam com os ambiciosos objetivos de redução de suas emissões de gases de efeito estufa.

“Mas os países em desenvolvimento devem fazer suas contribuições. Muitos já estão intensificando suas ações de mitigação, inclusive na ausência do necessário financiamento internacional”.

O Brasil apresentou em Copenhague seu compromisso de reduzir de 36% a 39% suas emissões de gases de efeito estufa em relação à projeção do que emitiria em 2020. Algo mais da metade desse esforço pretende conseguir reduzindo em 80% o desmatamento amazônico.

Estas ações custarão ao país um total de 160 bilhões de dólares. “Ou seja, 16 bilhões de dólares por ano até 2020”, recordou Lula.

Além das medidas voluntárias das nações em desenvolvimento para atenuar suas emissões, a adaptação é a grande prioridade para os países pobres, enfatizou o presidente.

“É inaceitável que os países menos responsáveis pela mudança climática sejam os primeiras a ser suas vítimas”, enfatizou.

Para isso, recordou Lula, são necessários fundos de ajuda internacional que devem contar com uma importante participação dos Estados.

“Os mecanismos de mercado podem ser muito úteis, mas nunca terão a magnitude nem a previsibilidade necessárias para a transformação que todos nós desejamos”, concluiu.

Na véspera, o presidente Barack Obama conversou por telefone com Lula como parte de seus esforços para desbloquear as negociações climáticas de Copenhague.

“O presidente Obama enfatizou ao presidente Lula a importância de que ambos países trabalhem estritamente para alcançar um acordo sólido, que permita um progresso real para elaborar uma ação global que enfrente a ameaça da mudança climática”, explica o comunicado da Casa Branca divulgado nesta quinta-feira.

“Obama enfatizou o papel-chave que o Brasil está exercendo e explicou tanto os passos que foram adotados nos Estados Unidos e seu compromisso para um acordo em Copenhague com a redução de emissões (de gases poluentes), o financiamento, como com um regime transparente e internacionalmente verificável”, acrescenta o texto.

Obama chega nesta sexta-feira à Cúpula do Clima de Copenhague com a certeza de ter transformado a política americana sobre mudança climática e em busca de garantias de verificação ante um eventual acordo.

Obama passará apenas algumas horas em Copenhague, mas seus assessores acreditam que sua presença é um sinal claro de que o governo dos Estados Unidos, fortemente criticado por se opor à redução das emissões poluentes no passado, converteu-se, agoram num líder a favor da luta contra o aquecimento global.

 

Das Agências internacionais