Primeiras ossadas retiradas de vala em Vila Formosa indicam exumações pós-1980
Por estarem acondicionados em sacos plásticos, ossadas provavelmente não são tentativa de ocultar corpos, diz encarregado da PF (Foto: Maurício Morais)
São Paulo – A primeira leva de ossos retirada nesta terça-feira (30) pela equipe de buscas no cemitério de Vila Formosa, zona leste da capital paulista, provavelmente é de exumações realizadas após a década de 1980. A avaliação preliminar leva em conta o fato de que o material encontrava-se em sacos plásticos azuis, empregados pelo Instituto Médico Legal (IML) após esse período. A procura realizada desde segunda-feira (29) tenta localizar ossadas de desaparecidos da ditadura militar.
As escavações atingiram dois metros de profundidade nesta terça. Foram retirados 15 sacos com ossos em um dos lados do ossário. A área descoberta é relevante porque indica manipulação ocorrida recentemente sem o devido registro. Como houve obras no local em 2002, é possível que a ação tenha ocorrido nesse período. As buscas continuam nesta quarta-feira (1º).
“Foi um dia muito significativo, agora temos a comprovação de que esse ossário estava camuflado e sem registro no cemitério, porque estava descaracterizado”, afirmou Eugênia Gonzaga, procuradora da República em São Paulo. Por não contar com jazigos perpétuos, periodicamente a administração do cemitério faz exumação dos corpos e convoca familiares para retirarem o material devidamente acondicionado. Aqueles que não são recolhidos, são depositados em ossários identificados e documentados.
“Essa conduta (de depósito sem registro) não poderia ter sido adotada, a prefeitura sabia disso e não poderia ter passado despercebida a existência desse ossário”, lamentou Eugênia. Ela lembrou que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na década de 1990 tornou pública a informação de que havia indicações de que corpos de pessoas mortas pela ditadura teriam sido enterradas no local com intenção de ocultar os crimes.
Problema administrativo
Jeferson Evangelista Correa, chefe da área de Serviço Forense da Polícia Federal, afirmou que, segundo o relato de um funcionário antigo, há mais um metro de profundidade a avançar até que se atinja uma laje de cimento, que seria o fim desse ossário. Pode haver ossos soltos ou acondicionados, o que é igualmente grave do ponto de vista da PF por caracterizar infração da administração do cemitério.
“A dúvida era o que encontraríamos no local. Agora, sabemos que são ossos tirados de alguma parte do cemitério com algum grau de organização”, esclarece. Por isso, ele sustenta que provavelmente não se trata de corpos de desaparecidos da ditadura. “Se fosse feito com a intenção de esconder alguma coisa, não seriam colocados em sacos, mas seriam despejados. O mais provável que seja uma ação do cemitério”, explicou.
Procurado, Osvaldir Barbosa de Freitas, superintendente do Serviço Funerário da capital paulista de 2001 a 2005, na gestão de Marta Suplicy, não quis se pronunciar até esta quarta-feira, quando acredita que terá reunido informações a respeito das intervenções. Ele comentou à Rede Brasil Atual, que os problemas de documentação foram os principais desafios da gestão, mas alegou que precisaria ouvir os gestores do cemitério de Vila Formosa para esclarecer o que ocorreu.
Da Rede Brasil Atual