Produção sem patrão e sem empregado
A economia solidária ganha espaço no cenário brasileiro e teve sua primeira conferência nesta semana, em Brasília. O setor gera trabalho e renda para 1,3 milhão de pessoas em 15 mil empreendimentos, que estabelecem novas relações de produção e comércio fora do padrão capitalista.
Brasil já tem 15 mil empreendimentos
Conferência encerrada ontem em Brasília mostrou a importância que a economia solidária vem assumindo no País e a força que ela pode ganhar nos próximos anos.
O secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, reafirmou que a economia solidária pode, e muito, contribuir para reduzir a exclusão social, já que é uma forma de relacionamento econômico sem desigualdade de classe, ou seja, sem patrão e empregado, onde todos que trabalham são igualmente proprietários e sócios de um determinado empreendimento.
Avanço – “Digo isso com muito orgulho. A economia solidária hoje está na vanguarda da luta contra a exclusão social”, disse Singer. Ele observa que ela ainda precisa superar uma série de desafios, mas os números revelam o quanto o setor evoluiu nos últimos quatro anos.
O Atlas da Economia Solidária no Brasil indica que atualmente existem mais de 30 associações de cooperativas de produção.
São 15 mil empreendimentos da economia solidária, que geram trabalho a renda a quase 1,3 milhão de pessoas. Só no Nordeste, segundo o documento, existem 6.549 empreendimentos.
Gestão coletiva – Os dois principais motivos que levam à criação desse tipo de empreendimento são a alternativa ao desemprego e renda dos sócios. A possibilidade da gestão coletiva da atividade também é destacada.
Crescimento – Cláudio Domingues da Silva, presidente da Unisol Brasil (entidade que reúne as cooperativas apoiadas pelo Sindicato) é testemunha do crescimento do setor. “Fundamos a Unisol há dois anos com 80 empreendimentos associados. Hoje, são 172”, conta.
Ele é presidente da Metalcoop, que produz autopeças em Salto, interior de São Paulo, originada a partir da quebra da antiga Picchi. “A economia solidária desperta no trabalhador a consciência de que o sistema capitalista jamais incluiria todos. Não fosse a cooperativa, muitos de nós hoje não teríamos um trabalho formal ou estaríamos desempregados”, destaca. A Metalcoop tem 74 sócios e 24 trabalhadores contratados.
Alternativa – Para a economista Tânia Bacelar, o capitalismo sofreu uma retração, afetando principalmente o setor da produção. “Quando a produção não gera riqueza, o capitalista parte para o patamar financeiro, o que gera desemprego e exclusão. Hoje, é mais fácil aumentar o lucro com transação financeira do que produzindo bens”, explica.
“A economia solidária veio para rediscutir o modelo de desenvolvimento vigente”, revelou ela.