Produtividade cresce nas montadoras em oito anos
Enquanto índice aumentou 30%, salário dos trabalhadores cresceu 25% no período; para economista, indústrias ficaram ainda mais competitivas
Um levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) indica que a produtividade física do setor automotivo aumentou mais de 30% nos últimos oito anos no País. Enquanto em 2002 um trabalhador fabricava 22,84 veículos por ano, em 2010, cada metalúrgico produziu 30,57 veículos.
De acordo com o economista da subseção do Dieese do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Fausto Augusto Jr., o aumento da produtividade está relacionado a diversos fatores e é reflexo do atual mercado e da demanda, o que levou as empresas a investirem na produção, em tecnologia e até reestruturarem o processo de produção. “Se estão produzindo mais é porque estão mais competitivas”, diz Fausto.
A afirmação do economista desmonta o argumento de parte dos empresários de que o aumento salarial torna as indústrias brasileiras menos competitivas. Para Fausto, uma das explicações para o reajuste conquistado pelos metalúrgicos neste ano, o maior da história da categoria, é exatamente o bom momento da indústria brasileira.
O presidente do sindicato, Sergio Nobre, disse que a competitividade só seria prejudicada se o aumento real de salário fosse superior aos ganhos de produtividade. No entanto, o aumento real dos salários dos metalúrgicos nos últimos oito anos ficou em torno de 25%. “Eles (os empresários) usam o argumento como se todo brasileiro tivesse tido 6,5% de aumento acima da inflação. Mas foram apenas os metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e, ainda assim, porque a realidade do setor permite.”
Nobre critica a parcela do empresariado brasileiro e economistas que ainda enxergam o salário como algo perigoso, prejudicial à economia. “Ficou provado que o salário é um indutor da economia e não inflacionário, porém, calcado pelo ganho da produtividade.” O sindicalista exemplifica que o salário mínimo vem crescendo há anos acima da inflação e tem sido fator de desenvolvimento. “É um valor que vai direto para o mercadinho, é injetado na economia e potencial de crescimento.”
De acordo com Nobre, o acordo fechado na campanha salarial da categoria deste ano foi negociado porque a produtividade das empresas permitiu. “O aumento não poderia ser maior, foi no tamanho adequado. Se tivesse que ser maior, teria sido reivindicado. Se o ano que vem mostrar que deve ser inferior, será”, enfatiza.
Contradição
O argumento de que os reajustes salariais interferem na competitividade das empresas e desencadeiam pressão inflacionária não é unanimidade nem mesmo entre empresários. O diretor da regional São Bernardo do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de Sao Paulo), Mauro Miaguti, é um dos que discordam da tese.
A posição se contrapõe à do vice-presidente da Fiesp (Federaçao das Indústrias do Estado de São Paulo), Benjamin Steinbruch, que considera o reajuste dos salários no Brasil um exagero se comparado ao resto do mundo. O vice da Fiesp argumentou que hoje a prática salarial no mundo todo nao é de aumento. “Se o Brasil quer ser competitivo tem de ser competitivo até mesmo nos salários.”
Para Miaguti, a maior prova de que o patamar dos reajustes foi adequado é a concordância das empresas. De acordo com o diretor do Ciesp, o principal problema para as empresas são os impostos. “A empresa paga cada vez mais, o governo arrecada cada vez mais e o trabalhador ganha cada vez menos. Se um trabalhador ganha R$ 1 mil, o custo para a empresa é de R$ 2 mil, a diferença vai para o governo em forma de impostos. Isso, sim, atrapalha a competitividade das empresas”, argumenta.
Miaguti critica o fato de o dinheiro arrecadado não ser revertido em forma de benefício nas áreas de saúde ou educação para o trabalhador. Para o diretor do Ciesp, o problema maior das indústrias são os altos encargos salariais, que não retornam em forma de benefícios e vantagens para o trabalhador.
Salário no Brasil é dez vezes menor que na Alemanha
Apesar das críticas relacionadas ao salário como um fator inflacionário, o custo da mão de obra nas montadoras instaladas no Brasil é menor do que em outros países. O brasileiro ganha menos de um décimo dos rendimentos de um trabalhador alemão. Por outro lado, o salário nas fábricas chinesas é aproximadamente um terço do que é pago no Brasil.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, a comparação nao é possível, pois a economia alemã é exportadora. “Na outra ponta estão os produtos que vêm da China, com menor valor agregado, pois a produçao é alta e os salários miseráveis. O Brasil compete em posiçao intermediária. Nosso grande desafio é melhorar o valor agregado da indústria”, comenta.
Para isso, sao necessárias ações para nacionalizar produtos. “O problema é que o País exporta componentes e compra o produto acabado mais caro. Temos que ter tecnologia e mais volume”, considera.
Do ABCD Maior (Niceia Climaco)