Professores da rede estadual entram em greve contra retorno das aulas presenciais em SP
Metalúrgicos do ABC estão solidários à luta dos trabalhadores na educação. “Os governantes não podem fazer da pandemia um palanque eleitoral”, disse Caramelo
Contra a decisão do governo do Estado de São Paulo de retornar as atividades nas escolas da rede pública no auge da pandemia, a categoria da educação decidiu, em assembleia na última sexta-feira, dia 5, iniciar a greve pela vida ontem. O tema da campanha da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) é “Aprendizagem se recupera, vidas não!”
Os Metalúrgicos do ABC são solidários à luta dos trabalhadores na educação pela gravidade da pandemia e pelo risco à vida das pessoas e de seus familiares.
“É uma ação totalmente irresponsável do governador Doria, usando do negacionismo de Bolsonaro para definir o retorno às aulas quando não há condições seguras para isso. Tamanha concentração de pessoas ampliará ainda mais os impactos do coronavírus, que já são devastadores na sociedade”, afirmou o diretor executivo do Sindicato, Carlos Caramelo.
“Os governantes não podem fazer da pandemia um palanque eleitoral. O mínimo antes da volta às aulas seria ter testagem e vacinação para todos os trabalhadores nas escolas”, defendeu.
O dirigente criticou a ausência de diálogo com os representantes dos trabalhadores, o que só aumenta as incertezas.
“Sabemos que muitas famílias às vezes ficam pensando em colocar os filhos de volta à escola porque trabalham ou porque ficam preocupadas com a questão de os filhos ficarem muito tempo dentro de casa sem aula. Mas a vida não se recupera”, disse.
“Se um aluno ou profissional tiver Covid, vão higienizar a escola? Vão suspender todas as aulas? Quem será o responsável por essa ação? Quando um aluno for ao banheiro, qual será o procedimento de higiene e limpeza? São faixas etárias muito diferentes, como será o trato? As crianças pequenas serão acompanhadas de perto para seguir os protocolos? Vai ter mais gente contratada para isso? Na hora do intervalo, como vai ser com as crianças e jovens no pátio? Se a criança sujar a máscara, o governo vai fornecer outra? Vai fornecer materiais de proteção para os profissionais? Vai ter álcool gel disponível em vários pontos da escola? É uma situação muito vulnerável”, ressaltou.
Greve pela vida
A presidenta da Apeoesp e deputada estadual pelo PT, Maria Izabel Noronha, a Bebel, explicou que essa é uma greve diferente, com foco na saúde de professores, estudantes, trabalhadores e familiares.
“Nossa luta é sempre por salários, condições de trabalho, concurso públicos, mas desta vez é em defesa da vida, é uma greve diferente das outras. Não podemos fazer uma greve que deixe os alunos sem nada, nós nos propusemos inclusive a ir para o trabalho remoto e estamos cobrando do governo que dê computadores e tablets para os alunos”.
Bebel denuncia que não há condições dignas para o retorno, como tenta mostrar o governador, João Doria.
“Não há condições para um retorno seguro. As escolas não apresentam a mínima infraestrutura. Recebemos a todo momento fotos e vídeos de professores mostrando banheiros quebrados, lixo acumulado, goteiras, álcool em gel vencido. E tudo isso já está causando consequências graves. A Apeoesp fez um levantamento em que constatou até agora 147 casos de Covid em escolas. Todas tiveram algum tipo de atividade presencial. Imagine o que vai acontecer quando milhões de estudantes voltarem para as aulas presenciais no Estado”.
“A lógica é clara, ou se consegue controlar o vírus, abaixar a curva e fazer com que os professores sejam vacinados ou vai acontecer aqui o que aconteceu em Manaus”, prosseguiu.
“Por que voltar às aulas agora, no momento ainda pior do que no início da pandemia, em que aumenta o número de óbitos e acometidos pelo coronavírus? Acho uma irresponsabilidade, uma insensatez. Os argumentos utilizados são muito pouco factíveis e incapazes de nos convencer que teremos uma volta às aulas segura, a gente está sendo convidado a pegar o coronavírus”, disse Bebel.
Maus exemplos
A dirigente também destacou surtos de contágio pelo novo coronavírus em escolas da rede particular, que retomaram as atividades presenciais há cerca de duas semanas. Ela citou o caso de uma escola de Campinas, no interior de São Paulo, que teve 39 trabalhadores e oito alunos contaminados pela doença dias após o retorno das atividades presenciais.
Com informações da Apeoesp e da Rede Brasil Atual