Projeto Meninos e Meninas de Rua faz 24 anos
Para comemorar seus 24 anos, o Projeto Meninos e Meninas de Rua realiza amanhã uma caminhada pelo Centro de São Bernardo. A manifestação também vai lembrar os seis meninos assassinados há 20 anos na Chacina da Rua dos Vianas.
Luta faz avançar direitos
das crianças e adolescentes
O Projeto Meninos e
Meninas de Rua de São
Bernardo, que está completando
24 anos, foi homenageado
na semana passada
em sessão solene na Câmara
Municipal.
O projeto nascido em
1983 é a mais tradicional
entidade em defesa dos direitos
humanos de crianças
e adolescentes de São Bernardo.
Tornou-se referência
internacional pelo seu trabalho
de inclusão social das
crianças de rua na família, na
escola e na sociedade.
Na época, a entidade era
a única voltada aos meninos
e meninas de rua da cidade,
já que a Fundação Criança,
mantida pela Prefeitura, se
recusava a atendê-los.
Organização – Eram tempos difíceis.
A ditadura militar agonizava,
a oposição conquistava
espaços e a sociedade se
reorganizava. Os agentes da
repressão resistiam e grupos
de extermínio agiam na periferia
das grandes cidades.
O Projeto ganhou um
espaço na Associação Comunitária
São Bernardo e os
educadores passam a reunir
os meninos de rua nas oficinas
de profissionalização e
no restaurante comunitário.
À noite, muitos dormiam
nas calçadas ao lado da associação.
No dia 3 de setembro
de 1987, um grupo de extermínio
assassinou seis desses
meninos. Foi uma comoção
nacional.
A matança, conhecida
por Chacina da Rua dos
Vianas, ganhou repercussão
internacional.
“Foi nosso batismo de
sangue”, lembra Marco Antônio
da Silva Souza, o Markinhos,
na época um dos meninos
assistidos e hoje um dos
coordenadores do Projeto.
Visibilidade – A partir daí, a entidade
descentralizou suas atividades
e voltou para as ruas, o
que passou a ser uma de suas
características.
“A matança deu visibilidade àquilo que já acontecia na
periferia da cidade e as autoridades
passaram a ser pressionadas
a agir”, disse ele. Anos
depois, o 3 de setembro foi
adotado como data oficial.
Nestes 24 anos, a atuação
do Projeto foi decisiva
na criação do Movimento
Nacional de Meninos e
Meninas de Rua, do Fórum
Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente,
dos Conselhos Tutelares e
do próprio ECA – Estatuto
da Criança e Adolescente.
Luta agora é conseguir
uma fatia dos orçamentos
Pass ados 24
anos, Markinhos avalia que houve
uma mudança cultural
para melhor. “As crianças pobres
deixaram de ser um
caso de polícia e passaram a
ser tratadas como uma questão
social”.
Mas o problema
continua e atualmente
existem 2,5 milhões
de crianças nas
ruas em todo o País.
Elas continuam vítimas
da exploração sexual e,
cada vez mais cedo, tornamse
dependentes químicos.
O Projeto está desenvolvendo
a campanha Orçamento
Criança. “Quanto se
gasta hoje com essas crianças
e quanto custa o fim do
trabalho infantil, da prostituição
infantil?, pergunta
Markinhos.
Amanhã tem caminhada
O Projeto Meninos
e Meninas de Rua realiza
amanhã uma caminhada
para comemorar seus 24 anos de vida.
Também vai lembrar os
seis meninos assassinados há
20 anos na Chacina da Rua
dos Vianas. A caminhada
começa ao meio dia a partir
da Sede do Projeto, na
Rua Jurubatuba
O massacre do dia 3 de setembro de 1987
Na noite de 3 de setembro
de 1987, Sandrão, Serginho,
Baianinho, Seires, Renatinho
e Neca, meninos com idade
entre 12 e 17 anos, dormiam
na calçada perto da Associação
Comunitária São Bernardo, no
início da Rua dos Vianas.
Durante o dia participavam
de oficinas profissionalizante
do Projeto junto com
outros meninos de rua. À noite
não retornaram para casa pois
estavam ameaçados de morte.
E não podiam dormir na Associação,
que só funcionava no
horário comercial.
No meio da noite o grupo
de extermínio chegou. Matou
os meninos a tiros e facadas e
amontoou os corpos nos banheiros.
Nas paredes e portas
foram pintadas cruzes com o
sangue.
Os assassinos foram pres