Protestos de rua são resposta à falta de oportunidades, afirma diretora da OIT
Crescimento econômico dos últimos anos é visto como insuficiente para melhorar situação dos jovens
Segundo pesquisa, desemprego entre jovens da América Latina diminuiu, mas ainda atinge 7,8 milhões. Mais da metade dos que trabalham estão na informalidade. E 22 milhões não trabalham nem estudam
A taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos na América Latina recuou de 16,4%, em 2005, para 13,9% em 2011, mas ainda atinge 7,8 milhões, 43% dos desempregados da região. E mais da metade (55,6%) dos que trabalham só conseguem ocupações informais. Os dados constam de relatório divulgado hoje (13) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que os relaciona às manifestações públicas. “Não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento e a frustração por causa da falta de oportunidades”, diz a diretora da OIT para América Latina e Caribe, Elizabeth Tinoco.
Segundo ela, o crescimento econômico dos últimos anos foi insuficiente para melhorar o cenário, e os jovens seguem enfrentando desemprego e informalidade. “Estamos diante de um desafio político que demanda uma demonstração de vontade de aplicação de políticas inovadoras”, diz Elizabeth. “É evidente que o crescimento não basta.”
Dos aproximadamente 108 milhões de jovens da região, 56 milhões fazem parte da força de trabalho. E 7,8 milhões procuram emprego sem encontrá-lo. A taxa de desemprego de 13,9% representa o dobro da média geral e o triplo da dos adultos. Entre os setores de menor renda, sobe para mais de 25%.
A taxa de desemprego é maior entre jovens do sexo feminino: 17,7%, ante 11,4% entre os do sexo masculino.
Outro fator de preocupação é o chamado universo dos “nem-nem”, isto é, aqueles jovens que não estudam nem trabalham. São 21,8 milhões de jovens nessa situação na América Latina. “Aproximadamente um quarto desses jovens buscam trabalho, mas não conseguem, e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos, em sua grande maioria mulheres jovens”, diz a OIT. Há 4,6 milhões que a organização chama de “núcleo duro”: não estudam, não trabalham, não procuram emprego e não se dedicam a tarefas domésticas. Uma situação que aponta exclusão social.
Os “nem-nem” chegam a 27,5% em Honduras, a 25,1% na Guatemala e a 24,2% em El Salvador. Na outra ponta, atingem 12,7% na Bolívia, 16,9% no Paraguai e 17% no Equador. No Brasil, somam 19%, pouco acima da Argentina (18,4%).
Há um dado citado como positivo pela OIT: o percentual de jovens que apenas estudam aumentou de 32,9%, em 2005, para 34,5% em 2011. “Não há dúvida que temos a geração mais educada da história, e por isso mesmo é necessário tomar as medidas apropriadas para aproveitar melhor seu potencial e dar-lhes a oportunidade de iniciar com o pé direito sua vida profissional”, comenta Elizabeth Tinoco.
O total de jovens que só estudam foi estimado em 37,2 milhões em 2011. Os que só trabalham somam 35,3 milhões, sendo 64% homens e 36% mulheres. E 13,3 milhões trabalham e estudam (58% homens e 42%, mulheres).
Dos que trabalham, praticamente metade estavam no comércio (29%) e nos serviços (21%). Outros 19% ficavam na agricultura e/ou mineração e 14%, na indústria manufatureira. A OIT estima que quase 56% se encontravam na informalidade, o equivalente a 27 milhões.
Entre as ações possíveis, a organização destaca educação, formação e qualificação, aplicação de programas de inserção no mercado e estratégias para promover a iniciativa empresarial entre os jovens e emprego por conta própria. Cita medidas nesse sentido aplicadas no Brasil e em países como Chile, Argentina, Peru, Equador Costa Rica, Honduras, El Salvador e Nicarágua.
No relatório, a OIT destaca a importância não apenas de ampliar a educação secundária, mas também de reter os jovens que têm acesso a ela. “Se bem que em todos os países com informação disponível a taxa de deserção no ciclo secundário se reduziu desde a década de 1990, em 2011 se observam altos níveis desse indicador. Em sete países (Brasil, El Salvador, México, Nicarágua, Panamá e Uruguai), essa taxa supera 15%, “com as consequentes perdas sociais”.
A OIT lembra ainda que as projeções demográficas indicam que, dos 599 milhões de habitantes em 2013, 69% têm menos de 40 anos. Em 1950, eram 162 milhões de habitantes, com 79% abaixo dos 40. “Até 2050 essas proporções terão mudado e, segundo as previsões, população total será de aproximadamente 734 milhões, mas apenas 49% será menor de 40 anos.” A expectativa de vida terá passado, de 52 anos, em 1950, para 81 em 2050. Mesmo com a redução relativa, o número de jovens triplicou de 1950 a 2010, de 31 milhões para 105 milhões – mas deve cair para 92 milhões em 2050.
No caso brasileiro, a OIT observa que “a tendência de probabilidade de desemprego para os jovens é, em todos os anos, superior à tendência para o restante da população”. Não se observa mudança significativa dessa tendência. O país concentra 40% da população economicamente ativa da região. A taxa média de desemprego recuou de 19,4% (2005) para 15,3% (2011) – chega a 12% para os homens e 19,8% para as mulheres.
Da Rede Brasil Atual