Qual o lugar do Brasil na disputa tecnológica?
Diretoria Plena debate os impactos da Indústria 4.0 na vida das pessoas e na disputa pela soberania dos países
A Diretoria Plena do Sindicato debateu em reunião na sexta-feira, dia 12, a Indústria 4.0, a relação entre as mudanças tecnológicas, a vida das pessoas e a disputa pela hegemonia entre os países no mundo.
O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, responsável por Políticas Industriais, Wellington Messias Damasceno, explicou que é preciso entender o que existe por trás da Indústria 4.0.
“A economia, a política e a tecnologia não são movimentos isolados. Temos que entender todos os aspectos que impactam na vida das pessoas para avançar no debate e propor políticas públicas para o país sob a ótica dos trabalhadores”, explicou.
“Isso inclui o desenvolvimento da indústria nacional, a formação profissional e uma transição justa, com recolocação de trabalhadores nos novos postos de trabalho que surgirão com o avanço tecnológico. Temos que defender quais tipos de empregos serão e quem vai acompanhar os processos e as relações de trabalho”, afirmou.
O dirigente analisou que hoje a indústria, que até então se concentrava apenas na produção, já se coloca como uma prestadora de serviços. “Não é mais só produzir caminhão, mas vender todo um pacote de soluções em mobilidade, por exemplo”.
“A disputa é mundial. O lugar do Brasil nessa disputa está colocado pelos investimentos em inovação. Os Estados Unidos investiram US$ 533 bilhões em 2017. O Brasil investiu cerca de US$ 5 bilhões”, disse (confira a tabela).
Subordinação tecnológica
O coordenador de educação e comunicação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, Fausto Augusto Junior, fez uma reflexão sobre se a revolução tecnológica vai resolver todos os problemas.
“A mudança é inevitável. E o homem muda a realidade desde que se entende por ser humano. Primeiro foi o domínio do fogo que nos tornou humanos, ao aquecer, cozinhar alimentos, ingerir proteínas e desenvolver o cérebro. Depois veio a agricultura, engenharia, máquina a vapor, eletricidade. Agora estamos em um nível de desenvolvimento tecnológico enorme, nunca estivemos tão perto de um computador inteligente”, lembrou.
Fausto contou que a Google anunciou o primeiro computador quântico, com capacidade de processamento de um trilhão de operações por segundo, em universos paralelos. “O Brasil tem dificuldade de ter um supercomputador, imagine um quântico. A tecnologia não chega aos países da mesma maneira”, avaliou.
O coordenador reforçou que desde o governo Lula, o país buscava o alinhamento tecnológico com o mundo para ter a capacidade de escolher o que fazer com a tecnologia. Um exemplo foi a escolha dos caças Gripen, que permite transferência de conhecimentos.
“O atual governo acha que o melhor é não ter uma política industrial. Assim caminharemos para um país dependente tecnologicamente e subordinado a países como os Estados Unidos. Desse jeito, vamos embalar produtos tecnológicos que chegam prontos de outros países e fazer a manutenção de produtos importados”, alertou.
“A disputa pela tecnologia é, antes de tudo, a disputa pela política. Qual o lugar do Brasil nessa disputa? Sem política industrial vamos ser a mina, a fazenda e a bateria do mundo. O desafio é manter uma parte do desenvolvimento tecnológico aqui, fazer parte da cadeia global, gerar empregos de qualidade e renda no Brasil”, concluiu.
Da Redação.