Qualificação do trabalhador será fundamental para crescimento do Brasil, diz especialista
Para Cláudio Salm, os 25 anos de estagnação econômica que o País viveu trouxe "um marasmo que atrasou a produção, afetando a qualificação na base técnica"
A perspectiva de que a economia do País possa crescer a partir do próximo ano entre 5% e 6% vai agravar a carência de profissionalização no mercado de trabalho, segundo avaliação feita pelo professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cláudio Salm.
Para ele, o processo de qualificação do trabalhador brasileiro será fundamental na terceira revolução industrial que está a caminho e deve passar pela melhoria do ensino fundamental. “A escola de ensino básico precisa promover a autoestima do estudante pobre, evitando o excesso de reprovação e a humilhação que ele sofre, pressionado também por defeitos do sistema educacional”, disse Salm durante o seminário Tendências e Desafios da Formação de Trabalhadores Para o Desenvolvimento Brasileiro, realizado nesta quinta-feira (5) em Brasília, organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
Para o professor, os 25 anos de estagnação econômica que o País viveu trouxe “um marasmo que atrasou a produção, afetando a qualificação na base técnica”. “Estamos caminhando para um mercado de massa em que a melhora das condições de vida da população abriu caminho para que ela entrasse no desenvolvimento. Por isso é preciso uma interação das empresas com o sistema de formação profissional, para atendimento a um número maior de consumidores.”
Salm chama atenção, no entanto, para o cuidado na escolha dos cursos que prometem qualificação, como por exemplo, em informática e inglês, para que o estudante não se depare com “picaretagens”. Ele sugere a criação de um programa de concessão de bolsas, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), para a educação profissionalizante. O ProUni concede bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior e oferece isenção de alguns tributos às instituições de ensino que aderem ao programa.
O coordenador da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), Aléssio Trindade afirmou que atualmente está sendo feito um trabalho de interação curricular entre o ensino tradicional e a formação profissionalizante, o que “era considerado de forma separada” nos governos anteriores. Também estão sendo desenvolvidos programas nas escolas em parceria com o Sistema S, que congrega a indústria e o comércio, para oferta de cursos técnicos gratuitos, direcionados à população de baixa renda.
Segundo Trindade, até o final de 2010 já estarão funcionando 354 escolas de ensino profissionalizante. Esses estabelecimentos serão localizados no interior e na periferia de grandes cidades com o intuito de, em cada local, ampliar vocação do desenvolvimento regional com integração das políticas públicas estaduais.
De acordo com dados apresentados pelo coordenador, dos 183 milhões de brasileiros 13% completaram o ensino médio. Desse total, 4% têm entre 15 anos ou mais de estudo. Da faixa etária de 15 a 17 anos, 17,5% da população está fora da escola. Dos 27 milhões de jovens entre 18 e 25 anos de idade, 30% têm menos de oito anos de escolaridade. Entre eles, 25% não frequentam escola.
Segundo Trindade, faltam professores especializados para a educação profissional e a maior carência está nas cidades de interior.
Ele aponta que 70% dos professores de ciência que atuam no ensino médio não têm formação específica. Isso também se aplica a 90% dos professores de física e a 80% dos docentes de química. Dos 125 milhões de brasileiros que têm idade para o trabalho, 10 milhões são analfabetos ou subescolarizados.
Os participantes do seminário Tendências e Desafios da Formação de Trabalhadores Para o Desenvolvimento Brasileiro vão elaborar um documento que irá listar as necessidades da educação profissionalizante no país e será enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Da Agência Brasil