“Quando a economia parou, descobriram aquilo que deveria ser óbvio, que quem gera riqueza é o trabalhador”
O Sindicato lança a seção #SeLigaMetalúrgic@ com contribuições de convidados para comentarem com os trabalhadores os desafios da categoria. O primeiro vídeo, já disponível nas redes sociais do Sindicato, é do economista Eduardo Moreira, com uma análise do cenário econômico e perspectivas neste momento tão incerto que o mundo vive diante da crise agravada pela pandemia do novo coronavírus. Confira aqui a íntegra:
Crise jamais experimentada pela nossa geração
O mundo está vivendo uma crise diferente de todas aquelas outras que a nossa geração experimentou. Não é uma crise que começa no mercado financeiro por conta da alavancagem dos ativos financeiros, como na Ásia em 1997, ou dos ativos imobiliários, por exemplo, em 2008, nos Estados Unidos. Agora é uma crise no setor real, na qual as pessoas não podem ir pro trabalho ou se reunir para produzir, não podem também ir pra rua juntas para consumir serviços e produtos, e não podem também interagir entre elas. Oferta e demanda estão longe, afastadas. É uma crise na qual a produção de riqueza vai diminuir demais e isso pode ser medido pelo Produto Interno Bruto dos países e do mundo como um todo.
Agravamento da miséria
A primeira coisa que a gente tem que ter na cabeça é que, se é um mundo que já vinha com uma distribuição de renda e de riqueza muita injusta, agora tende a fazer com que os mais pobres fiquem ainda mais pobres. Muitas pessoas vão voltar a estar debaixo da linha de pobreza e muitas vezes abaixo da linha de miséria.
O valor do trabalhador
Mais do que nunca, é importante a força dos sindicatos e das associações porque se tem uma coisa que essa crise ensinou é que o risco não é tomado pelo empresário, pelo dono da empresa. Quantas vezes as pessoas ouvem que o empresário é mais rico porque ele toma todo o risco? Ora, quando os trabalhadores e trabalhadoras tiveram que parar de produzir, de trabalhar, a economia parou de um dia para o outro e as pessoas descobriram aquilo que deveria ser óbvio, que quem gera riqueza é o trabalhador e a trabalhadora. E é por isso que eles têm que ter o direito de estar negociando juntos para poder fazer o seu valor valer, o seu valor virar preço nos salários nas condições que recebem.
Volta lenta
Eu vejo a volta da crise como sendo uma volta relativamente lenta, uma volta onde os países vão renegociar suas relações, sejam comerciais ou políticas. O eixo econômico do mundo deve mudar, saindo dos EUA e indo para a Ásia. Os hábitos das pessoas também, pelo menos no curto e médio prazo, devem estar modificados. Que a gente saia desta crise sabendo que não existe mais espaço para um país com concentração de renda como o nosso que cada vez mais tirava direitos dos trabalhadores, esquecendo que essa riqueza que está acumulada nas mãos de poucos no Brasil é uma riqueza produzida por muitos trabalhadores e trabalhadoras que têm que ter de volta o seu valor reconhecido e sua capacidade de negociar garantida.
Veja o vídeo do economista Eduardo Moreira