Quando os homens dividirão o poder conosco?

Professora da Universidade de São Paulo, Vera Soares (foto) é pesquisadora de relações entre homens e mulheres, militante feminista e uma das organizadoras do 1º Congresso das Mulheres Metalúrgicas, em 1978. No Congresso deste ano ela comandará a oficina A luta pelo espaço: as mulheres e o poder, na tarde de sexta-feira, 26 de março. Vera Soares concedeu esta entrevista para a Tribuna Metalúrgica.


Quando as mulheres conseguirão dividir o poder com os homens?

A pergunta deveria ser inversa: quando os homens vão aceitar dividir o poder com as mulheres?

De uma forma geral, os direitos sociais avançaram com a redemocratização do País, mas os direitos das mulheres não caminharam no mesmo ritmo. Por que?
Por causa das desigualdades históricas. Os avanços dependem muito de organização e já fomos mais organizadas.

O neoliberalismo dos 90 passou em cima de nossas cabeças e as mulheres sofreram mais seus impactos. O trabalho precário aumentou e, à medida que o Estado deixou de assumir responsabilidades, perdemos direitos sociais, com a piora dos serviços públicos, por exemplo.

O mesmo acontece com a representação feminina…
As mulheres trabalhadoras, e o ABC é exemplo disso, sempre participaram da luta por igualdade. Mesmo assim, elas têm pouca representatividade no movimento sindical e na política.

O 8 de março completou 100 anos, mas a luta das mulheres começou muito antes disso, com as trabalhadoras e militantes feministas brigando pelo reconhecimento. O que queremos, até hoje, é ser sujeitos da história.

A pesquisa das relações entre homens e mulheres é reconhecida?
Sim. Há um debate nas universidades de reconhecer essas relações como uma categoria que serve para compreender a realidade com a qual nos deparamos na vida cotidiana.

Nesse caso, a pesquisa serve também de reflexão à militância, como ferramenta e apoio à organização e à luta das mulheres.