Que a verdade seja dita

A última edição da Revista Exame traz como reportagem de capa uma matéria sobre a Fiat, considerada, segundo pesquisa da revista, como uma das melhores para se trabalhar. Entretanto, se não fizermos uma análise crítica de tudo que ali foi escrito, poderemos realmente achar que essa empresa é o “paraíso”.

Um dos quesitos avaliados é referente a salários, onde o que conta é tudo aquilo que foi para o bolso do trabalhador, desde prêmios em dinheiro, PLR, bônus por metas atingidas etc. Cinco estrelas neste quesito significam que a empresa paga acima da média do mercado em que ela está situada. A Fiat conseguiu as cinco estrelas. Ora, com que mercado essa empresa foi comparada para merecer as cinco estrelas? Com o mercado de Belo Horizonte?

Se for comparado ao mercado automotivo do ABC, a Fiat paga o salário abaixo da média e não acima. Seu salário só é acima de mercado se for comparado com as novas plantas instaladas, por exemplo, em São Carlos ou no Paraná. Além disso, a Fiat sempre adotou uma política de marginalização total do Sindicato.

Quem não se lembra do confronto entre policiais e sindicalistas em setembro do ano passado, quando tentou impedir de modo violento o protesto pelo contrato coletivo nacional? Na fábrica de Betim é comum a competição entre trabalhadores. Há até troféus para as equipes vencedoras, além de outros prêmios. Festa de aniversário de casamento, bailes de debutantes e até empréstimo de carro top de linha para a filha de funcionário que vai se casar. Tudo isso a transformou, de acordo com a pesquisa, numa empresa nota 10.

Mas ela não dá isso tudo de graça! A história da Fiat na Itália e no Brasil sempre foi a de perseguição às organizações criadas pelos trabalhadores. A divisão do coletivo dos operários e a criação da competitividade entre os mesmos faz minar a solidariedade, desestimulando a organização dos trabalhadores. Dessa forma fica bem mais fácil para ela lidar com as idéias tidas como revolucionárias de uma minoria de trabalhadores.