Queda de arrecadação pode ser compensada por corte de juros, afirma Ipea
Esta é a conclusão do estudo A Gravidade da Crise e a Despesa de Juro do Governo. O estudo projeta sete cenários, para concluir que, entre eles, o melhor a ser feito seria baixar em 1% a taxa da Selic até setembro, e em outubro, reduzir em mais 0,75%
A melhor política que o governo federal pode adotar para enfrentar a queda de arrecadação esperada para 2009 é o corte na despesa com juros. Esta é a conclusão do estudo A Gravidade da Crise e a Despesa de Juro do Governo, divulgado na quarta-feira (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“É possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo sem desorganizar as finanças públicas. Basta fazer algo que já está sendo feito pelo mundo inteiro: reduzir a taxa de juros”, declarou o diretor de Estudos Macroeconômicos (Dimac) do Ipea, João Sicsú, responsável pelo estudo.
O estudo projeta sete cenários, para concluir que, entre eles, o melhor a ser feito seria baixar em 1% a taxa da Selic até setembro, e em outubro, reduzir em mais 0,75%. “Com isso chegaríamos em outubro de 2009 com uma taxa de 7% ao ano, contra os atuais 12,75%. Isso representaria uma economia fiscal de R$ 30 bilhões”, explicou Sicsú.
Segundo o pesquisador do Ipea, muitos especialistas dizem que a queda de arrecadação prevista para o período seria de R$ 25 bilhões. “Reduzir a taxa de Selic, de forma que ela chegue ao patamar de 7% em outubro não é algo diferente do que poderia ser esperado em um momento de crise. Muito pelo contrário. Seria uma forma de se enfrentar a crise de maneira contundente, mantendo inclusive o orçamento contábil das finanças públicas.”
“Mas não podemos cortar gastos sociais nem gastos com investimentos, porque estes são tipos de gastos públicos que têm efeitos multiplicadores consideravelmente altos, que colaboram para o enfrentamento da crise”, enfatizou Sicsú. “Devido ao processo e ao cronograma das obras de engenharia, os gastos com investimentos apresentarem resultados numa velocidade inferior à dos gastos sociais, mas não há dúvidas de que eles atacam de forma efetiva algumas faces da crise.”
“Gastos sociais, como o Bolsa Família e os com a Previdência, são transformados imediatamente em gastos com consumo, ajudando a movimentar a economia e, de forma bastante rápida, apresentam efeitos multiplicadores consistentes”, argumentou.
Para Sicsú, a inflação não representa risco para o Brasil nem para nenhum outro país. “A crise afetou a demanda, e é ela que está segurando os preços”, disse. Dessa forma, afirmou, o Banco Central já tem condições de ser mais ambicioso e acelerar a queda da taxa Selic.
“Acredito que a inflação não ultrapassará os 4% em 2009. O próprio mercado financeiro, com todo o seu conservadorismo, prevê uma inflação de no máximo 4,6%. A preocupação maior é a com o desemprego, porque ele acarreta em mais efeitos negativos para a economia, juntamente com a apreensão tanto de empresários, que passaram a engavetar os projetos de investimentos, como dos trabalhadores, que temendo o desemprego reduzem o consumo”, argumentou Sicsú.
Da Agência Brasil