Quem se opõe à mídia é silenciado, diz Chauí

Filósofa alerta que ao deter o monopólio da informação, a mídia silencia a oposição e dá a impressão de que sua opinião é a opinião pública


Foto: Luciano Vicioni

A filósofa Marilena Chauí está impressionada com a atuação da presidenta Dilma Rousseff. E continua crítica da mídia brasileira, a quem acusa de silenciar e desqualificar quem discorde dela.

Como a senhora avalia o governo Dilma?
Claro que eu tinha grandes expectativas, mas não pensei que essas expectativas fossem preenchidas tão rapidamente e logo no início de governo, que é um período sempre tão complicado. Eu estou muito impressionada, primeiro com a clareza de perspectivas, a firmeza de propósitos, a decisão de não ter contemplação com corrupção e desvios, a implementação rápida e eficiente da continuação do PAC e o respeito que ela adquiriu perante todas as classes sociais da sociedade brasileira. Pode-se não concordar ou fazer objeções às decisões políticas dela, mas ela, como figura pública e como pessoa, é totalmente respeitável. Por sua presença sóbria, clara e decidida. Isso se sintetizou na aparição que ela fez na ONU, em que foi a presença de uma grande estadista, o que foi reconhecido pela assembleia toda.

E o que a senhora acha das ministras da presidenta?
São ministras fantásticas. Eu não conhecia a Izabella [ministra do Meio Ambiente] e fiquei muito, mas muito impressionada com a qualidade do pensamento e a clareza dos objetivos e das práticas e a visão que ela tem do País inteiro das diferentes questões relativas a meio ambiente em todos os setores. Então não só é uma pessoa muito informada, é uma pessoa bem informada nas práticas que ela está encarregada. Estive também há poucos dias com Maria do Rosário [ministra os Direitos Humanos] e ela também é uma grande pessoa, respeitadíssima ante todo o pessoal dos direitos humanos e dos processos democráticos. Ela esteve na USP para discutir a Comissão da Verdade e os uspianos de esquerda e de extrema-esquerda não são fáceis, mas se dobraram diante dela. Ficaram cativados e fascinados, mesmo, pelo discurso dela e pela atitude. É um conjunto poderoso que está em Brasília! 

Como está a mídia brasileira neste momento?
O que me impressiona nos setores ligados a informação propriamente dita é o fato de que, por um lado, há uma espécie de monopólio da opinião e como a opinião está monopolizada esta opinião pode aparecer como fazendo oposição a este ou aquele governo a esta ou aquela instituição a esta ou aquela pessoa. Você tem, pelo monopólio da opinião, o direito de se apresentar como oponente desta política, daquela pessoa, daquela instituição, enfim, você se apresenta desta maneira. E, no entanto, não admite a contraparte, que seja feita uma oposição a maneira pela qual você veicula a informação ou o processo de desinformação e de monopólio da opinião. O outro, que se opõe a isso, é completamente desqualificado e silenciado, de tal maneira que você tem a ilusão, no espaço público, da unanimidade, de que a opinião que está lá é unânime porque os opositores a essa opinião foram silenciados, desqualificados. 

As novas mídias não estão quebrando esse monopólio?
Acho que sim. O que aconteceu em janeiro no Oriente Médio, depois o que aconteceu na Europa,  e o que aconteceu durante o segundo turno das eleições presidenciais fica evidenciado que a ideia democrática de que o cidadão não te o direito de apenas receber informação, mas ele também tem o direito de produzir a informação, de enviar essa informação se concretiza. Eu tenho uma única dúvida a respeito desses novos instrumentos.   

Da Redação