"Não seremos chapa branca"

Entrevista com Luiz Marinho, novo presidente da CUT Nacional

O 8º Congresso é o mais importante na história da CUT?

O mais importante foi o da fundação, quando enfrentamos a ditadura militar.

E o atual?
Ele poderá ter importância igual devido o momento que atravessamos, com oportunidade de reorientar os rumos do País. E a CUT terá participação estratégica na definição destes rumos.

Como?
Fazendo o governo cumprir os compromissos defendidos pelo presidente Lula na campanha eleitoral e, até posso parecer meio sonhador, encaminhando-os em direção ao socialismo.

Assim a CUT não se confunde com o governo? Uma central chapa branca?
Isto não me preocupa. Continuaremos os mesmos, independente de quem estiver no poder. Claro que prefiro um governo comprometido com as mudanças que um contrário.

Há setores do funcionalismo descontentes com o governo. O que fazer?
Fazer o governo elaborar um plano de recuperação salarial para a categoria. Aliás, o mesmo deve ser feito para dobrar o valor de compra do salário mínimo.

Você não concorda como se deu o reajuste do mínimo?
Não. Também não gostei do aumento dos juros. E manifestei essas opiniões nas duas vezes. Não evito críticas ao governo quando necessárias.

A CUT também?
Claro. Tem central que apóia tudo. Nós, não. Não concordamos com o valor do teto da aposentadoria e queremos discutir a cobrança dos inativos, só para citar dois exemplos. Existem questões em que a CUT estará mais na oposição que outras centrais.

Isso é bom?
São bons problemas na medida em que encontraremos um governo disposto ao diálogo.

Mudando de assunto, você se tornará presidente da central?
Espero que sim. A Articulação é o segmento mais forte na CUT.

Quais são seus planos?
Não tenho. Serão definidos pelo coletivo: congresso, plenárias, reuniões da diretoria etc.

E o Sindicato?
Se eleito, deixo a Presidência e continuo na diretoria. O Feijóo completa os próximos dois anos. Gostaria de agradecer à categoria o apoio e pedir que o mesmo apoio seja dado a Feijóo.

Arriscaria um balanço do seu mandato?
É cedo, mas acho que merece destaque a defesa da democracia, as lutas pela preservação do emprego, a disposição para negociar sempre, a recuperação de empresas falidas e depois entregues a trabalhadores como cooperativas e a batalha para as empresas trazerem novos produtos ao ABC.

E o futuro? Depois da CUT, prevê um retorno à política?
Não costumo fazer planos. No ano passado, não pensava na Presidência da Central assim como não pensava em sair candidato a vice-governador até três meses antes das eleições. Tenho facilidade para me enquadrar em projetos coletivos, mesmo a contragosto.

Quando você saiu de Santa Rita do Oeste previa ir tão longe?
Nem me passava pela cabeça o que iria acontecer.