Raças: como nos tornamos diferentes? *
Ao contrário dos chimpanzés e demais primatas, o homem não possui cabelo por todo o corpo. A adaptação provavelmente surgiu por volta de 1,6 milhão de anos atrás para esfriar o corpo de alguns de nossos primeiros ancestrais, que começavam a se tornar mais ativos e fazer longas caminhadas.
Uma mudança que levou a outra. Células que produziam melanina, antes restritas a algumas partes descobertas, se espalharam por toda a parte.
Além de tornar a pele mais escura, a melanina absorve os raios ultravioleta do sol e faz com que percam energia.
Enquanto os humanos modernos estavam restritos à África, a melanina funcionava bem para todos.
Eles eram um grupo bastante homogêneo, porque, por motivos desconhecidos, os primeiros humanos estiveram há cerca de 200 mil anos perto da extinção, com talvez não mais que 20 mil pessoas.
Posteriormente, a descoberta de novas ferramentas e o crescimento da população tornou a África pequena demais para eles e, cerca de 100 mil anos atrás, os homens modernos chegaram à Ásia.
Dela se espalharam para a Oceania, depois para a Europa e, há pelo menos 15 mil anos, à América.
Nas regiões menos ensolara-das, a pele negra começou a blo-quear demais os raios ultravioleta. Esse tipo de radiação é nocivo em quase todos os aspectos, mas tem um papel essencial no organismo, que é iniciar a formação na pele de vitamina D, necessária para o desenvolvimento do esqueleto e a manutenção do sistema imunológico.
A tendência então foi que populações que migraram para regiões menos ensolaradas desenvolvessem pele mais clara para aumentar a absorção de raios ultravioleta.
Em regiões intermediárias, o truque evolutivo foi o bronzeamento – uma camada temporária de melanina para proteger o folato em épocas de sol e produzir vitamina D quando ele não fosse tão forte.
Ou seja, de acordo com os novos estudos, a cor da pele é apenas uma forma de regular nutrientes.
* Segunda parte da reprodução parcial do artigo Vencendo na Raça, de autoria de Rafael Kenski, publicado na revista SuperInteressante on line em 3/5/2003