Racismo expresso em números
O mito da democracia racial no Brasil foi colocado em xeque outra vez. A segunda edição da pesquisa Retratos da Desigualdade, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que as mulheres negras sofrem duplo preconceito por causa da discriminação no mercado de trabalho, no atendimento da saúde e educação.
Divulgada no final de setembro, e feita em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), a pesquisa mostra o preconceito presente em vários aspectos do cotidiano da mulher negra. Um dado afirma que 44,5% das mulheres negras nunca fizeram exame clínico de mama, aquele capaz de identificar o câncer em estágios iniciais. A porcentagem de mulheres brancas que nunca tiveram acesso ao exame é de 27,3%.
“O racismo que marca as relações sociais no Brasil é refletido nos indicadores de saúde”, disse Fátima Regina Rodrigues, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Para ela, falar em saúde da população negra é reconhecer o que é específico, e ter uma política dirigida”.
Educação – A pesquisa aponta ainda que a média de tempo de estudo entre os brasileiros brancos é de 7,7 anos, contra 5,8 anos para os negros. Apesar de registrar redução de 1993 a 2004, o analfabetismo atinge 16% dos negros maiores de 15 anos, enquanto o problema aflige 7% dos brancos na mesma faixa etária.
Vítimas do racismo e do machismo, as afro-descendentes ocupam os piores postos de trabalho, recebem os menores rendimentos e sofrem com as relações informais.
Enquanto o salário médio mensal das brancas foi de R$ 561,70, o das afro-descendentes ficou na casa de R$ 290,50. Entre os homens a diferença também é grande: R$ 931,50 para homens brancos e R$ 450,70 para negros.
O estudo foi feito com base no banco de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
A metodologia identificou uma hierarquia social com homens brancos no topo, seguidos por mulheres brancas, e homens negros e mulheres negras, que sofrem dupla discriminação: a de raça e a de gênero.