Rastreador obrigatório deixa carro mais caro
Montadoras irão repassar custos com aplicação dos dispositivos
A norma do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) que determina a obrigatoriedade de todos os carros saírem de fábrica com dispositivo antifurto (de localização e bloqueio) a partir de dezembro deste ano vai gerar aumento no preço dos carros, segundo especialistas. Por outro lado, a medida deve trazer benefícios, entre os quais a redução no custo do seguro dos veículos.
A resolução 245/2007 do Conselho estabelece que em 1º de julho já começa a valer a exigência, para 20% do total de automóveis e comerciais leves produzidos. Em outubro, o percentual sobe para 40%, chegando aos 100% dos veículos zero-quilômetro a partir de 1º de dezembro.
Especialistas afirmam que ainda é difícil prever a elevação no valor do automóvel ao consumidor e a economia que as pessoas terão na hora de contratar a apólice.
No entanto, o equipamento vai gerar custo adicional para as montadoras, diz o presidente Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automores), Cledorvino Belini. Isso pelo valor do produto, pela necessidade de ajustes na linha de montagem e treinamento dos funcionários. E esse aumento deve ser repassado aos consumidores.
O que dificulta a projeção de elevação no preço do carro é a escala de produção (a quantidade de itens fabricados), que pode colaborar para reduzir o valor do equipamento.
Hoje, estima-se que o custo médio, para o fabricante do dispositivo, é R$ 350, e no mercado o rastreador sai por R$ 700 a R$ 900 para venda ao público consumidor – embora muitas companhias ofereçam o aparelho em comodato, com contratos de 24 meses.
Isso sem falar no preço do serviço de rastreamento (estimado em R$ 39,90 até R$ 120). No entanto, a norma estabelece que a tecnologia a ser implantada permitirá a localização do carro, mas essa função só será ativada se o proprietário do carro quiser habilitar o equipamento junto a empresas de monitoramento.
Seguradoras – O processo de implantação do dispositivo está atualmente em fase de operação assistida, em que cerca de 1.000 veículos são acompanhados por um grupo composto por representantes do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Anfavea, Abraciclo (Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas), Sindipeças (Sindicato Nacional das Indústrias de Autopeças), operadoras e provedores de monitoramento de veículos.
Essas discussões também são acompanhadas pelas seguradoras, que veem a tecnologia como favorável ao segmento. “Toda a medida feita para reduzir o furto e roubo é bem-vinda. Se você diminui o volume de indenizações, isso vai refletir favoravelmente no preço do seguro”, diz o diretor da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), Neival Rodrigues Freitas. Mas ele afirma que só é possível estimar qual será a redução do valor das apólices depois que a medida sair do papel.
Mercado segurador aposta no equipamento
A obrigatoriedade de instalação de dispositivo de localização e bloqueio nos carros pelas fabricantes ainda não está valendo, mas o mercado segurador começa a se mexer para aproveitar os benefícios da tecnologia.
Um exemplo foi a Cardif, que lançou no início de 2009 o Autofácil, seguro com cobertura só para roubo e furto, com a instalação do rastreador (cedido em comodato). Inicialmente oferecido em São Paulo e Salvador, foi estendido recentemente para todo o País.
O serviço, feito em parceria com a Ituran (que faz o monitoramento 24 horas por dia), tem vantagem em relação à apólice tradicional no mercado: tem custo reduzido (de R$ 69,90 a R$ 99,90) e não exige perfil do segurado, ou seja, não tem diferença de custo para pessoas que normalmente teriam de pagar mais, devido a fatores de risco, como idade e local onde mora.
Esses benefícios foram o que atraiu Ana Luíza Viegas Nasser, 21 anos, a ter esse tipo de seguro. Funcionária do departamento financeiro de uma empresa de São Bernardo e moradora de São Caetano, ela usa o carro para ir ao trabalho e procurou proteger seu patrimônio (o automóvel) mas esbarrava nos preços elevados.
“Por causa da minha faixa etária, o seguro normal custaria 30% do valor. Meu carro é um Ford Ka 1997, que custa R$ 9.000 e teria de pagar R$ 3.000 (aproximadamente). Agora pago R$ 69,90. Para mim, valeu a pena”, afirma.
Com essas vantagens, o seguro da Cardif já cresceu mais de 100% em vendas desde que foi lançado. “Hoje são mais de 1.500 apólices novas por mês”, afirma o superintentende da empresa, Emerson Luccas. Ele acrescenta que esse é um nicho promissor: “Nossas pesquisas mostram que 74% dos que têm Autofácil nunca tiveram seguro antes.”
O corretor de seguros Douglas Bunder, da Luma Corretora, de Santo André, atesta que a procura tem sido grande por esse produto. “Na região, já temos 500 produtos vendidos”, afirma.
Empresas de monitoramento preveem expansão
A expectativa é grande entre as empresas produtoras de equipamentos de rastreamento e as que prestam serviços de localização, de que o mercado ganhe forte impulso com a instalação obrigatória dos dispositivos nos carros.
Uma das gigantes do segmento, a Ituran aposta na expansão da atividade. A companhia faz tanto o desenvolvimento e produção dos aparelhos quanto o monitoramento dos carros, e tem carteira atualmente de 220 mil clientes ativos e mais de 18 mil veículos recuperados.
Segundo o gerente técnico Fábio Nonis, a norma do Contran colocará em evidência as melhores empresas do ramo, “pois a homologação junto ao Denatran é necessária para a prestação do serviço”. A companhia foi homologada em 2009.
O presidente da empresa FleetLink (desenvolvedora de softwares para fabricantes desses dispositivos), Ivo Thomas, também avalia que o segmento deve se beneficiar. Para ele, deve se criar uma “cultura” de monitoramento de carros em todo o País.
Adaptação – Nonis destaca ainda que as fabricantes de carros estão em processo final de validação dos equipamentos para atender à resolução e que haverá vários dispositivos no mercado, desde soluções básicas solicitadas pelo Denatran quanto tecnologias mais avançadas.
O gerente assinala ainda que Ituran já tem parceria com grandes seguradoras e com montadoras de veículos. “Antes mesmo da publicação da resolução, a Ituran já trabalhava fortemente com montadoras”, diz.
Questões técnicas podem adiar implantação
Há questões técnicas, de definição de padrão do equipamento a ser adotado pelas montadoras, por exemplo – o que pode retardar a entrada em vigor da norma, segundo o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini.
Ele afirma que, em função desses problemas e da necessidade de ajustes na linha de montagem das fabricantes de veículos, o início da exigência (a colocação em 20% da produção total de automóveis) ficará para setembro.
Entretanto, o Denatran informa que as datas de instalação do dispositivo antifurto ainda estão valendo conforme o previsto.
Polêmica – A adoção do rastreador, de forma obrigatória, pelas fabricantes de carros, está sendo marcada pela polêmica. No ano passado, o Ministério Público Federal de São Paulo havia obtido liminar (que depois foi cassada), em que a Justiça entendia que a implantação do dispositivo em todos os veículos, independente da vontade do consumidor, feria preceitos constitucionais de privacidade e intimidade.
Diante disso, o Denatran publicou a portaria 253, que possibilitou modificações no equipamento, tirando a função de rastreamento (que constava da resolução), deixando apenas as funções de bloqueio e localização, neste caso de forma opcional. E o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) realizou testes no dispositivo e mostrou a impossibilidade de localização do veículo sem a ativação do sistema.
Por conta dessas mudanças na norma, o juiz federal Douglas Camarinha Gonzáles designou audiência pública, em janeiro deste ano para tirar dúvidas técnicas sobre o tema, e após essa reunião, decidiu que a portaria 253 “não afronta a intimidade e privacidade”, devido à necessidade de contratação do serviço e da expressa autorização do proprietário.
Da redação com Diário do Grande ABC