Real valorizado prejudica exportações brasileiras
Valorização de 15% do real no ano tirou a competitividade das exportações nacionais, que cresceram abaixo da média mundial
O real valorizado tira competitividade do produto brasileiro e a recuperação do crescimento do volume de exportações nacionais em 2010, depois de um ano de crise, ficou abaixo da expansão do comércio mundial.
Em 2010, o País recuperou sua posição de 22º maior exportador do mundo, que havia perdido em 2009. Mas a Organização Mundial do Comércio (OMC) admite que a moeda foi um obstáculo e o superávit do País apenas foi mantido graças ao aumento nos preços das commodities. Segundo os dados da OMC, o Brasil registrou uma expansão em volume em suas vendas de 10,9%, contra uma média mundial de 14,5%.
O volume de vendas da China teve uma expansão quase três superior à do Brasil no ano. Já a América do Sul registrou ainda a pior expansão comercial em volumes no mundo, de apenas 6,5%. O que permitiu ao Brasil subir no ranking dos maiores exportadores foi a alta dos preços de minérios e outros recursos naturais, e não a competitividade internacional do País.
Em valores, as exportações brasileiras subiram 32%, uma das mais altas do mundo e superada apenas por Japão, Rússia, Cingapura, Indonésia, Austrália, Arábia Saudita e Taiwan. Mas desses 32% de aumento da renda obtida com a exportação nacional, 19% veio apenas do aumento dos preços.
Nos últimos cinco anos, a valorização das commodities também ajudou o Brasil a ficar entre os que registraram o maior crescimento de suas exportações, mas apenas em valores. A média de expansão foi de 11%. Em 2009, minérios tiveram seus preços reduzidos em 29%, contra 17% na agricultura. Para o Brasil, que tem 12% de sua pauta de exportação no setor de minérios, a queda foi sentida na balança comercial.
Segundo a OMC, o Brasil sofreu uma queda de 23% em suas vendas ao mundo em 2009, somando um total de US$ 153 bilhões em exportações. O resultado foi o recuo do Brasil na classificação dos maiores exportadores, passando da 22ª posição em 2008 para a 24ª posição. Em 2010, com a volta do crescimento dos preços de matérias-primas, o Brasil de novo subiu no ranking, voltando ao 22º posto, com vendas de US$ 202 bilhões.
Mas, para a OMC, a valorização em um ano de 15% no real tirou a competitividade das exportações nacionais diante de produtos de outros países. Outro indicador de que o Brasil não ganhou competitividade em relação a seus parceiros é o tamanho do mercado internacional que os produtos nacionais abocanharam.
O País praticamente não mudou sua participação no mercado, passando de 0,9% para 1,3% em dez anos de todas as exportações mundiais. Entre 2009 e 2010, a taxa passou de 1,2% para 1,3%. Mas mesmo assim foi inferior à participação do Brasil há 20 anos. A dependência do Brasil nos preços internacionais ainda explicita o fato de que, nos anos de maior exportação, a expansão das vendas nacionais não estava baseada em um maior volume, mas apenas na valorização dos preços de commodities.
A constatação de economistas, portanto, é de que o Brasil não se tornou mais competitivo nos últimos anos e nem ganhou espaço nos mercados internacionais. Apenas a renda dos produtos vendidos havia chegado a taxas mais altas. Mais da metade da alta registrada nas exportações nacionais em 2010 ocorreu graças aos preços, e não ao volume exportado.
Em meados da década, o governo Lula chegou a estar tão empolgado com os ritmos das exportações que previu que o Brasil seria o 20º maior exportador do mundo, o que nunca ocorreu. O destino das exportações também mostra o perfil das vendas baseado em produtos primários. A Ásia se tornou o principal destino hoje das exportações nacionais, com 28% das vendas. A expansão do comércio para a região foi de 42% no ano passado. Individualmente, a China se consolidou como maior parceiro, abocanhando 15% de tudo o que o Brasil vendeu em 2010, em grande parte minérios e alimentos.
Da Agência Estado