Receita da indústria cresce mais que horas de trabalho
O faturamento da indústria cresceu pelo quinto mês consecutivo e, no acumulado deste ano, atingiu um nível quase quatro vezes superior ao de horas trabalhadas, indicou a pesquisa “Indicadores Industriais” de outubro, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O levantamento mostrou evolução de 5,4% no faturamento real do setor ao longo dos primeiros dez meses do ano. O aumento da atividade industrial, com base nas horas de produção, foi de 1,4%. A utilização da capacidade instalada da indústria no período teve um ligeiro avanço de 0,1 ponto percentual.
A trajetória de crescimento do faturamento real se mantém desde o fim do segundo trimestre do ano, de acordo com a CNI, e se “descola” das demais variáveis. Os ganhos cresceram tanto no ano que, mesmo se o faturamento de novembro e dezembro ficar estável, a indústria terá elevação de 4,4% no indicador. O cálculo levou em consideração os ganhos até outubro comparados com o resultado de todo o ano de 2010.
Em outubro, a indústria operou, em média, com 81,4% da capacidade instalada, de acordo com dados dessazonalizados. Esse é o menor nível desde fevereiro de 2010. “É quase estagnação”, avaliou o economista da CNI Marcelo de Ávila, ao citar os dados de atividade industrial. A quantidade de horas trabalhadas recuou 1,1% e o nível de operação da capacidade instalada em outubro caiu 1 ponto percentual em comparação com igual período do ano passado.
As condições favoráveis à importação incentivaram a entrada de bens importados, usados como insumos na indústria nacional. A CNI explicou que, com isso, a produção brasileira cai, mas o faturamento, que contabiliza a venda da mercadoria final, se eleva. O acúmulo de estoques indesejados também foi apontado como um dos motivos do avanço de 1,4% do faturamento do setor entre setembro e outubro, “descolado” da queda da atividade.
“Vem chegando um período de demanda fraca, que é o começo de ano. A indústria, ao ver estoques elevados, reduz o ritmo de produção para desovar as mercadorias”, afirmou o gerente-executivo da CNI, Renato da Fonseca. A demanda interna tem sido abaixo da esperada pelos empresários, completou o economista Marcelo de Ávila. A evolução do nível de estoque, segundo mostrou a “Sondagem Industrial” ficou em 52,4 pontos em outubro, o que representa acúmulo indesejado de mercadorias finais.
Entre os 19 setores da indústria de transformação, apenas quatro apresentaram queda no faturamento real em outubro, em relação ao mesmo mês do ano passado. São eles: têxteis, vestuário, minerais não metálicos e móveis. “Eles estão em processo de maior competição com os produtos asiáticos que entram com preços mais baratos aqui e no mundo”, analisou o gerente Renato da Fonseca.
O mercado de trabalho da indústria, por outro lado, mostrou melhores resultados no mês. Depois de cair em setembro, o emprego no setor, com ajuste sazonal, avançou 0,2% em outubro. Os rendimentos médios reais, sem ajuste sazonal, recuaram 1,4% no mês, em relação a setembro. Essa foi a maior queda para outubro desde o início da série, em 2006.
Do Valor Econômico