Reconstrução da economia passa por desenvolvimento, preservação ambiental e reforma tributária
Diretor do Dieese detalha perspectivas para o futuro econômico do país no sentido de dar condições dignas para a população
O diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos), Fausto Augusto Júnior, conversou com a Tribuna sobre as perspectivas para o futuro da economia brasileira. Entre os temas abordados estão a reforma Tributária, a correção da tabela do Imposto de Renda e a reindustrialização do país.
TM- Quais as perspectivas para o futuro da economia brasileira?
Fausto – Estamos em um momento de reconstrução. Passamos quatro anos sem projeto de desenvolvimento. Além do governo Bolsonaro, foi um momento muito complicado por conta da pandemia. A principal perspectiva é que sejam retomadas as discussões, mas também as ações na direção da reconstrução de um projeto de desenvolvimento. Duas bases importantes que o presidente Lula apresentou no programa de governo e que estão sendo anunciadas é a questão ambiental, na discussão da economia verde e sustentável, e outra é resolver os problemas reais no sentido de dar condições mínimas e dignas para as pessoas.
TM- Quais medidas precisam ser tomadas de imediato para alavancar a economia?
Fausto – O governo fala muito em retomar as obras relacionadas à infraestrutura, saneamento básico e habitação. Também tem sinalizado sobre a questão de crédito, no caso das empresas, o Refis (Programa de Recuperação Fiscal), anunciado pelo Haddad (ministro da Fazenda), e tem o anúncio a ser feito para renegociação de dívidas das famílias.
TM – O que é importante destacar sobre o Brasil no Fórum Econômico Mundial?
Fausto – A ida do Haddad como ministro da Fazenda é normal, mas a ida da Marina Silva como ministra do Meio Ambiente é um indicativo importante dessa ideia que temos do que será o futuro e da importância da discussão ambiental, e o Brasil está se colocando nela.
TM – O que podemos esperar da promessa de correção da tabela do Imposto de Renda?
Fausto – A tabela do Imposto de Renda ficou sem reajuste durante todo o governo Bolsonaro. Isso faz com que os mais pobres paguem mais imposto, principalmente a classe média. O presidente Lula tem o compromisso de colocar a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, imagino que isso vai acontecer ao longo dos quatro anos. Há um processo de discussão que deve ser vinculado à própria negociação do salário mínimo, mas principalmente no debate da reforma Tributária.
TM – E a reforma Tributária deve passar neste governo?
Fausto – A reforma Tributária é uma grande discussão que envolve o Congresso Nacional. Não é uma discussão simples, fala-se dela desde a época da Constituição. Alguma reforma Tributária passa com certeza, qual é ela é a grande questão. A discussão da simplificação tributária já está madura, isso certamente vai passar. Colocar os mais ricos para pagar imposto e desonerar os produtos dos mais pobres é o grande desafio.
TM – O que podemos esperar para indústria e geração de empregos?
Fausto – O governo sinaliza um processo de reindustrialização do país, não é à toa que ele coloca o vice-presidente na pasta. A retomada das relações internacionais ajuda isso. Vamos ter prazos diferentes para impactos diferentes. Por exemplo, o setor de combustível ligado à Petrobras terá um avanço muito rápido, porque a própria empresa vai mudando a sua política e vai induzindo um processo de reindustrialização. Já em áreas mais vinculadas ao mercado, como o próprio setor automotivo, demanda um processo mais complicado de indução do setor público para o setor produtivo, então é outro processo também bastante difícil. O que se diz é que o Brasil vai voltar a ter política industrial. Qual será e quais os resultados vão depender dessa construção e das disputas que acontecem no âmbito internacional.
TM – O que podemos esperar da inflação nos próximos meses?
Fausto – É preciso resolver a política de preço de combustíveis e fortalecer a produção de alimentos. Mas isso leva tempo, porque alimento tem safra. A inflação deve girar em torno dos limites da meta, entre 5% e 6%. A tendência é ir voltando para a normalidade que é de 4% e 6%. Claro que isso tem a ver com a política de juros implementada pelo Banco Central, e é sempre bom lembrar que o Banco Central é autônomo.
TM – Qual o papel do Sindicato nesse processo?
Fausto – Temos um país a reconstruir, o papel do Sindicato sempre foi importante para induzir tudo isso. As discussões que serão feitas sobre o salário mínimo e tabela do IR fazem parte de uma disputa que não tínhamos. Agora o movimento sindical passa a ser ator negociador desses itens tão importantes para os trabalhadores.