Reconstrução do Brasil passa por superar Bolsonaro e sistema financeiro que ‘sequestra setor produtivo’

Tragédia do governo Bolsonaro é alvo de análise durante o curso Dilemas da Sociedade Brasileira. Propostas para a superação são duras e exigem mobilização

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A reconstrução do Brasil da situação de “bancarrota” a que é levado pelo atual governo deverá passar por transformações nos sistemas bancário e tributário. A avaliação é do ex-ministro da Educação Fernando Haddad e do economista Eduardo Moreira, durante evento transmitido na noite de ontem (17). O sistema financeiro porque, da forma como funciona, impede a democratização do acesso ao crédito e a dinamização da economia. E o tributário porque, como diz Haddad, “quem sustenta o atual sistema é o pobre, e quem se beneficia é o rico”. Eduardo Moreira acrescenta que o sistema funciona com uma “escravidão financeira que sequestra o setor produtivo”.

Haddad e Moreira participaram do curso Dilemas da Sociedade Brasileira ao lado da coordenadora nacional do Projeto Brasil Popular Olivia Carolino, e do presidente do Psol, Juliano Medeiros. “A situação se agrava a cada dia. As notícias do chão da escola, do chão da fábrica, são muito preocupantes. Crianças desmaiando de fome na escola. Não apenas não conseguem acompanhar as aulas, mas não têm condição física em virtude da insegurança alimentar”, listou o ex-ministro, ao descrever a situação de bancarrota. “Estamos falando do terceiro maior produtor de alimentos do mundo. As notícias da educação, as notícias do SUS, filas enormes se formando no pós-pandemia; nenhum plano para suprir a demanda represada. A ciência e tecnologia em situação de miséria com cortes de 90%. O meio-ambiente devastado. A política externa com um presidente que isola o país”, disse.

Comédia de erros

Logo no início, Haddad disse que Jair Bolsonaro poderia ser visto como uma “comédia”, se não fosse o presidente da República. Ele destacou a gravidade da perseguição ideológica tocada pelo governo. “Cultura devastada, artistas perseguidos, cientistas perseguidos, educadores perseguidos, jornalistas perseguidos. Um descaso na prestação de contas. Lei de Acesso à informação desrespeitada. Orçamento secreto, o dinheiro do contribuinte não se sabe para onde vai, Bolsonaro usa em troca de apoio. Temos enquanto isso uma centro-direita unida em torno de um desmonte do país”, afirmou.

A propósito da situação política, Haddad observou o empenho da imprensa comercial de tentar emplacar uma “terceira via” para as eleições de 2022, diante do amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E desse, modo, tentar apagar o protagonismo de Lula na política nacional e internacional. “Se apresentam como terceira via com apoio de gente que promove uma verdadeira devastação da infraestrutura e da economia”, criticou. Moreira fez coro a Haddad ao desqualificar o que existe hoje da chamada terceira via como força capaz de falar em reconstrução do Brasil. “Este centro está totalmente alinhado com Guedes. E não existe Bolsonaro sem Guedes.”

Plano de reconstrução

Haddad defende que o desafio interno do campo democrático no país é agregar forças políticas em torno da candidatura de Lula. Disse que o bolsonarismo deve ampliar investidas antidemocráticas e usar de todos os artifícios para valer a violência. “Assim ele chegou ao poder”, lembrou. Por outro lado, enfatizou a defesa de um plano para o Brasil que projete a recuperação do Estado. “Temos um plano de reconstrução nacional para 2022, que está recebendo subsídios da sociedade até hoje. E garanto que receberá mais quando a aliança com Lula estiver composta”, afirmou.

Eduardo Moreira, enfatizou que é necessário “quebrar argumentos” do atual governo que tentam encobrir seu fracasso econômico e social. “O mundo está vivendo um ambiente inflacionário, de desemprego, mas nada parecido com o Brasil. O Guedes disse que o Brasil está crescendo mais do que todo mundo, mas é mentira. Entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil foi a que mais caiu em dólares. Isso tem efeito no PIB. Nossa moeda é a que mais desvalorizou no mundo. A inflação está atrás apenas de Turquia e Venezuela. Veja o FMI, não dá pra falar que eles são de esquerda. A previsão de crescimento do mundo é de 5,9%. A menor de todas as previsões de todos os países no FMI é de 1,5% no Brasil. E o FMI é a maior previsão. Alguns bancos brasileiros já preveem retração”, explicou.

História e Bolsonaro

O presidente do Psol classificou a conjuntura política e econômica brasileira como um “desastre” e falou da necessidade de protagonismo da classe trabalhadora. “Como historiador, a história nos ensina a evitar lugares que não nos ajudam. A esquerda brasileira viveu à procura de um programa. Não um amontoado de propostas, mas uma estratégia de transformação. Predominou uma leitura em que se pensou um programa que considerava que as classes populares e a história de sua formação impediam o protagonismo da transformação. Razão pela qual era necessário aliança. Essa apreciação dizia que não tínhamos, pelas debilidades, condições de sermos diligentes das transformações. Havia um entendimento de que existia uma burguesia nacional.”

Porém, segundo Juliano, o golpe de 1964 deixou evidente que não havia uma burguesia nacional interessada no país. “As elites brasileiras se alinharam com interesses internacionais”, observou, com objetivo de questionar a aliança com esses setores.

A coordenadora Olivia Carolino, uma das idealizadoras do curso, argumentou que é possível “ter uma postura militante e se alimentar de propostas concretas, conversar com o povo, com a família, com colegas de trabalho, com a convicção de que o país tem jeito”. Ela citou o educador Paulo Freire, ao dizer que o processo de reconstrução do Brasil suscita o termo “esperançar”. “Colocar no diálogo diante de tanta destruição, que podemos reconstruir. Temos um projeto de nação que temos a dimensão de compreender o povo, precisamos de aderência em sua história. Temos a possibilidade de lidar, inclusive com a autoestima do povo brasileiro”, completou.

Da Rede Brasil Atual.